São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
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Grupo ensina michês a usar camisinha

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um Fiat Fiorino, verde, com dois homens dentro, vai percorrer o "circuito michê" de São Paulo a partir de 6 de janeiro.
Sem descer do carro, como se fossem clientes, os dois homens vão abordar garotos de programa e dar-lhes uma cartilha e três camisinhas. Depois, com um pênis de borracha e um tubo de gel, vão simular o uso adequado do preservativo em relações anais.
Essa cena deverá se repetir 70 vezes por dia, cinco dias por semana, até outubro. Vai custar R$ 42 mil aos cofres do Ministério da Saúde e será protagonizada, em rodízio, por cinco duplas de ativistas do Grupo Pela Vidda de São Paulo.
"Nosso objetivo é conscientizar os michês (prostitutos masculinos) sobre a necessidade do uso de preservativos", diz Renato Marin, 34, militante do Pela Vidda e coordenador do "Projeto Michê na Cidade de São Paulo".
Um projeto piloto, desenvolvido nos últimos 12 meses, detectou que "os michês não têm informações suficientes sobre Aids".
Com a campanha, o Grupo Pela Vidda pretende atingir 42 mil pessoas –total de camisinhas que serão distribuídas durante dez meses.
Cada prostituto vai receber três camisinhas porque "faz em média três programas por noite", afirma Marin. Segundo ele, estima-se entre 800 e 2.000 garotos de programa na cidade, mas esse cálculo tem pouca credibilidade, devido aos "michês eventuais".
O Fiorino verde, comprado com parte da verba cedida pelo Ministério da Saúde, vai circular pelo largo do Arouche, avenida São Luís, rua Xavier de Toledo, praça Ramos de Azevedo e avenida São João, no centro, e pelo parque Trianon, nos Jardins. Esses locais formam o "circuito michê".
Levantamento
Segundo levantamento do Grupo Pela Vidda, a maioria dos michês paulistanos tem mais de 18 anos e cobra, no máximo, R$ 50,00 pelo programa.
Os michês, raramente, assumem que são homossexuais. Se dizem "ativos liberais" –fazem tudo com o cliente, mas não aceitam ser passivos na relação sexual.
Os michês do centro da cidade são diferentes dos do parque Trianon. "Qualquer um pode ser michê na avenida São Luís. Já no Trianon existe um dono da área", diz Marin. Ou seja: os do parque Trianon são "mais profissionais" e os do centro, "mais eventuais".

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