São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
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O Aristides é um Macunaíma engravatado

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Um novo personagem merece entrar no mesmo hall da fama que abriga os notórios Ricardão, Mauricinho e Plínio. Trata-se do Aristides.
Todo mundo conhece um Aristides. Sabe aquele sujeito que leva a vida na maciota só porque, anos atrás, passou por milagre em um concurso público? Pois é o Aristides.
Cabelos tratados à base de Grecin 2000, ternos tipo Ducal em finíssimo tropical brilhante, gravatas de seda sintética e perfumes comprados no duty free. Tá pensando o quê? O Aristides é um sujeito garboso. Para ele, a aparência é essencial.
E, para lustrar ainda mais a embalagem, o Aristides adora passar por erudito. Qualquer convidado que visita sua casa é conduzido ao escritório onde o Aristides guarda seus livros. Todos comprados por metro.
Quando entrega a estranhos seu cartão de visitas recheado de títulos imaginários, o Aristides acha chique dobrar-lhe a pontinha.
É um sujeito à moda antiga, que costuma enfiar um Mentex na boca antes de dar o bote na mocinha.
E, aos colegas que não se cansam de vê-lo cantar as recepcionistas da repartição, o Aristides apresenta a mulher como "minha senhôra".
A marca do zorro do Aristides é subestimar a inteligência alheia através da teatralidade. Ele realmente acredita ser possível compensar seu flagrante despreparo usando de uma verborragia pomposa, temperada por superlativos.
Quando discute grandes temas nacionais, então, o Aristides se supera. Franze a testa, assume um tom gutural de baixo de opereta e, com lágrimas nos olhos, coloca-se invariavelmente no papel da vítima. Caso o caldo entorne, ele sai pela tangente dizendo-se indignado.
Atrás de todo o verniz do Aristides, porém, esconde-se um incompetente mandrião. O Aristides embroma, embroma, mas não engana nem a Velhinha de Taubaté.
Quem o conhece sabe que seu semblante circunspecto e a fantasia de executivo de segundo escalão não passam de ar quente. Na verdade, o Aristides é um Macunaíma de terno e gravata.

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