São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
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Pelo aprimoramento do MP

LUÍS NASSIF
PELO APRIMORAMENTO DO MP

Mais do que nunca, há a necessidade de se ter um Ministério Público autônomo, eficiente e comprometido com a busca da justiça. Portanto, o julgamento de Collor deve servir de reflexão para o aprimoramento do órgão, não para seu enfraquecimento.
Há a necessidade de uma análise desarmada dos fatores que levaram a essa situação, para que se possa buscar formas de superá-los.
A primeira mudança fundamental tem que partir da própria corporação. Há dois grupos disputando internamente o controle do órgão. O primeiro, constituído dos procuradores pré-Constituição de 1988, a quem se facultava inclusive o direito da prática da advocacia privada –um privilégio incompatível com o exercício do cargo. O segundo, dos novos procuradores, em regime de dedicação exclusiva, muitos deles compromissados com sua missão, mas presos a um corporativismo feroz. Há ainda procuradores independentes, voltados exclusivamente para o aprimoramento técnico de seu trabalho, mas com espaço reduzido de atuação, em virtude dessa disputa interna.
Essa politização do órgão jogou para segundo plano as preocupações com resultados e com a imagem do órgão. Cada crítica recebida, em vez de motivar reflexões, despertava temores conspiratórios e represálias corporativistas.

Profissionalismo
A corporação tem que sair rapidamente desse impasse de grupos e fechar pactos em torno do profissionalismo. Evidentemente essa mudança de postura exige um procurador-geral de reconhecido saber jurídico e com compromissos firmes com a causa do MPF.
Na ação contra Collor, a linha de argumentação da defesa já era conhecida há dois anos. Nesse tempo todo, o procurador-geral não tratou de obter nenhuma nova prova sequer, numa demonstração completa de falta de responsabilidade. Mesmo assim, não provocou nenhuma reação da corporação, que revelou-se um organismo amorfo, que só dava sinais de vida na hora de tentar punir os críticos externos.
A partir dessa nova postura, o passo seguinte é proceder à modernização administrativa do órgão. Tem que ser informatizado, para que a opinião pública possa acompanhar o desenrolar dos processos. Em vez de investimentos em prédios, sedes cômodas e benefícios funcionais, tem que se investir naquilo que aumente a eficiência e a transparência do órgão.
Onde estão os processos de Leopoldo Collor de Mello, Raymundo Nonato Noronha, da Telesp, para citar apenas alguns casos levantados pela coluna?
O problema é a falta de estrutura? Em lugar de varrer problemas para debaixo do tapete, tem que se escancarar a portar e discutir abertamente a questão com a sociedade.

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