São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
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Tecnologia tira executivo do escritório

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

A gente olha para os congestionamentos de trânsito em Manhattan e se pergunta se um dia isso vai ter fim. Os pessimistas acham que será inevitável limitar a entrada de automóveis na ilha, revezando entre os carros com placa par ou ímpar. Os otimistas dizem que o problema será eliminado pela silenciosa revolução da informática.
No Instituto para o Futuro, sediado na Califórnia, ou em outros centros de pesquisa espalhados pelo país, já está se formando um grupo de pensadores dedicados a avaliar o impacto que o computador terá nas relações sociais.
Uma das conclusões óbvias é que, pelo menos nos Estados Unidos, homens e mulheres viverão socialmente ainda mais isolados, "conversando" por fax, telefone ou trocando mensagens pela telinha do computador. O aprendizado baseado na experiência transmitida pela convivência dará lugar à dependência cada vez maior dos manuais. Não é por acaso que os livros de auto-ajuda já têm títulos que prometem ensinar a amar.
O que é que tudo isso tem a ver com o trânsito de Manhattan? É simples. Deixando a filosofia de lado, os analistas identificam que o acesso à informática está levando um número cada vez maior de americanos a passar mais tempo em casa. Inclusive para trabalhar.
O corretor da bolsa de Nova York que hoje sai de casa em Long Island e viaja uma hora de automóvel para chegar a Wall Street pode ser um animal em vias de extinção. Por pior que isso seja para a qualidade das relações sociais, é óbvio que pelo menos o trânsito em Manhattan tem o potencial de melhorar.
"Commuter" é o nome dado por aqui àqueles que se deslocam de casa para o trabalho todo dia, na rotina do "9 to 5", horários de entrada e saída da maioria dos empregos nos Estados Unidos. "Telecommuter" é uma palavra recente, mais uma acrescentada ao dicionário pelo vendaval da informática: define aqueles que vão para o trabalho sem sair de casa, usando os recursos da tecnologia.
A avaliação mais recente da Link Resources, uma empresa de Nova York que faz pesquisas no setor, estima que mais de 7,5 milhões de americanos praticaram o "telecommuting" durante o ano de 1993. Um crescimento vertiginoso, considerando que em 1990 eram apenas 3 milhões.
Usando computador doméstico, modem e uma linha telefônica, esses americanos se comunicam com suas empresas à distância e cumprem em casa a maioria das tarefas rotineiras, como ler e preparar relatórios, conversar com clientes por telefone e assim por diante. Eles só aparecem no escritório da companhia para reuniões importantes.
Como em todo fenômeno americano, logo aparece alguém para escrever um manual sobre o assunto. Recentemente foi lançado o "Manual do Telecommuter", que dá dicas para quem pretende encarar o patrão com a proposta de trabalhar em casa.
Brad Schepp, o autor, diz que a maioria dos empregados de uma grande companhia poderia realizar pelo menos parte de suas tarefas num escritório doméstico. Ele tem uma lista das profissões que mais podem se beneficiar do "telecommuting": engenheiros, principalmente os de sistemas, analistas de sistemas, jornalistas e vendedores.
Algumas grandes empresas já oferecem a seus funcionários a opção de trabalhar em casa, entre elas a gigante da telefonia AT&T. Mas a idéia ainda enfrenta resistências de chefes que não querem perder o controle de subalternos.

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