São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 1994
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O "próprio" tem gala pós-tombamento

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, o chamado "próprio da municipalidade", hospeda hoje a sua primeira grande gala pós-tombamento pelo Condephaat.
Evidentemente, do ponto de vista financeiro, seria melhor para as contas bancárias de Corinthians e Palmeiras que o jogo se realizasse no Morumbi com todos os lugares ocupados.
Mas, em termos de calor humano e da atuação da torcida como participante ativa do espetáculo, nada como o Pacaembu. Não há estádio mais encantado.
Corinthians e Palmeiras são um marco na história multicultural desta cidade de tantas raças. Era no Pacaembu que as diferenças se resolviam. Será no Pacaembu que elas se ritualizarão de novo.
Têm razão os que acham que o Pacaembu é de todos, mas sobretudo corintiano. A fiel conseguiu preservar o seu lugar tradicional, junto à entrada do portão principal. Trata-se de um lugar sagrado.
As dimensões do gramado também ajudam o alvinegro. O Pacaembu é 4m4O menor no comprimento e 4m20 menor na largura do que o Morumbi. Concentra mais os jogadores, congestiona o tráfego.
E isto favorece os times mais desorganizados taticamente, como é o caso do Corinthians em relação ao Palmeiras.
Gostaria de deixar registrada a minha opinião de que o tombamento do estádio do Pacaembu foi uma decisão oportunista, autoritária e antidemocrática da chamada defesa do patrimônio histórico.
Ela atropela um processo legítimo e civilizado sobre uma discussão que a sociedade paulistana vinha desenvolvendo, isto é, se quer ou não a privatização do estádio. A democracia foi para escanteio.
Reafirmo aqui que ainda não tenho opinião formada sobre o assunto. A Prefeitura diz que o estádio sangra os cofres da administração municipal. Mas não apresenta números claros e transparentes.
Por outro lado, há o lobby dos moradores do bairro. Acho o Pacaembu um bairro lindo e que deve mesmo ser preservado do processo de liquidação urbana.
Entendo muito bem que estejam interessados em preservar o seu patrimônio e o direito à qualidade de vida. Só não posso concordar que tudo isto ocorra financiado pelo resto mais carente da cidade.
A reação emocional do corporativismo dos moradores da região é natural. Mas não pode ser o único elemento a ser levado em conta. É preciso discutir o que é melhor para a cidade como um todo.
Se não tem muita contribuição a dar, talvez o silêncio seja a melhor colaboração do presidente do Condephaat, José Carlos Ribeiro de Almeida, para este debate.
Dizer que o placar eletrônico interfere na arquitetura parece provocação. Em estádios mais velhos que o Pacaembu, no mundo todo, o placar fica onde deve ficar: no ponto de maior visibilidade.
Posso até fazer uma sugestão ao zeloso presidente. Acabar com as partidas de futebol, tirar o placar e cobrar ingressos, todos os domingos, para as torcidas irem ao Pacaembu só para admirar as colunas.
Será um grande sucesso.

Até a final do Campeonato Brasileiro, Matinas Suzuki Jr. escreve todos os dias nesta coluna; a coluna de Alberto Helena Jr. está, diariamente, junto com o noticiário sobre Palmeiras e Corinthians.

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