São Paulo, segunda-feira, 19 de dezembro de 1994
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O presidente e Tom Jobim

SERGIO AJZENBERG

Centenas de pessoas se acotovelaram no Maksoud Plaza para assistir a mais um seminário sobre a Cultura, mas acredito que pela primeira vez, nos últimos vinte anos, com a presença dele, do presidente da Nação. Para nós, produtores culturais, as palavras do amado Jorge, soam como violinos: "A vitória de FHC foi a da esperança contra o desespero".
Nós já falamos e discutimos em todos os seminários a importância do nosso "umbigo", mas pela primeira vez o presidente e o ministro Jack Lang nos ouviram como profissionais importantes para o país. Importantes porque a Cultura modernamente passou a ter uma relevância extrema não só para a intelectualidade como também para o operariado e principalmente para o operariado especialiazado.
Só conhecimento e informação não bastam. É necessário que as pessoas sejam felizes, criativas e harmoniosas. As artes trazem valores de qualidade, tradição e respeitabilidade e podem fazer mais pelo país do que centenas de máquinas e equipamentos nossos de exportação.
Peguemos o exemplo de Tom - não há um botequim ou bar elegante com piano, que pianista bom ou ruim, na África ou na Rússia, não saiba tocar Garota de Ipanema. Não houve no mundo quem fizesse mais pelo Brasil, falando sobre nossos amores, florestas e passarinhos do que o Tom.
Imaginemos quanto de exportação podemos ter com os nossos artistas plásticos, nosso clima, horas de audiovisual, nossa música, se o governo incentivar, e o Itamaraty der um pouco de proteção.
O governo muitas vezes leva delegações de empresários da Fiesp, CNI etc. para incentivar as exportações. Por que não leva junto representantes da indústria cultural? O Caetano com um violão, algum balé, atores de novelas podem representar o país naquilo que ele tem de mais bonito, de mais belo e transmitir a todos, um país diferente da corrupção, do impeachment, da violência.
Se o governo entender que será através da cultura e educação que nós atingiremos um desenvolvimento mais harmônico, com melhor qualidade de vida, talvez nós estejamos próximos de, em quatro anos, atingirmos níveis de desenvolvimento inimagináveis.
A população já entendeu isto quando se sentiu mais brasileira, "se olhando", se refletindo nas músicas do Tom.
O novo presidente tem clareza disso e as atitudes de assistir "Vestido de Noiva" do grupo Tapa no Aliança Francesa e comprar ingressos para assistir no Municipal o Ballet da ópera de Paris revelam um novo momento brasileiro.
Às vezes, atitudes e gestos valem mais que mil palavras, ou mil leis de benefício fiscal.

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