São Paulo, segunda-feira, 19 de dezembro de 1994
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Carter tenta a paz em Sarajevo

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, 70, chegou ontem a Sarajevo, a capital da Bósnia-Herzegovina, na sua mais ousada iniciativa desde que deixou o governo: pôr fim à guerra de três anos na ex-Iugoslávia.
Perguntado por jornalistas se haveria paz na Bósnia antes do Natal, Carter respondeu: "Espero que sim, mas não sei".
O ex-presidente chegou a Sarajevo, que está cercada por tropas sérvias, vindo de Zagreb, capital da Croácia. Apesar de um cessar-fogo ter sido decretado em Sarajevo, quatro granadas explodiram na cidade pela manhã.
O policiamento em toda a capital bósnia é intenso. Carter tinha programado encontro com o presidente da Bósnia, Alija Izetbegovic, para a noite de ontem. Em Zagreb, ele conversou com o premiê Haris Silajdzic.
Hoje, ele terá a mais importante reunião da viagem, com o líder dos sérvios na Bósnia, Radovan Karadzic, em Pale, 20 km a sudeste de Sarajevo.
Muita gente, inclusive no governo Clinton, acha que Karadzic está usando Carter a fim de esvaziar a proposta de paz para a região apresentado pelo "grupo de contato" (EUA, Rússia, Alemanha, Grã-Bretanha e França).
Karadzic rejeitou o projeto, que prevê a criação de um Estado sérvio na Bósnia que ocupe 49% do atual território bósnio. Os sérvios controlam 70% da Bósnia e ontem ainda ganharam a cidade de Velika Kladusa, no norte.
Carter diz que o projeto do grupo de contato servirá como a base de suas negociações. O ministro das Relações Exteriores dos sérvios na Bósnia, Aleksa Buha, disse ontem que a paz pode ser alcançada antes do Ano Novo.
Não está confirmado o encontro de Carter com o presidente da Sérvia, Solobodan Milosevic, programado para hoje em Belgrado, a capital sérvia. Milosevic tem marcada para hoje viagem para a Grécia.
A guerra na ex-Iugoslávia é justificada com argumentos religiosos e raciais. A Bósnia era uma das seis repúblicas autônomas da Iugoslávia socialista, que se desintegrou em 1991. Os muçulmanos somam 44% da população.
Os sérvios, que são cristãos ortodoxos e constituem 31% da população, rejeitaram o plebiscito que decidiu pela independência da Bósnia em março de 1992, o que deu origem ao conflito. A maioria dos croatas (católicos, 17%) se aliou aos muçulmanos.
A Rússia apóia os sérvios. Os EUA têm mantido política incongruente, em geral favorável aos bósnios, mas sem determinação.

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