São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 1994
Próximo Texto | Índice

Brasil faz importação recorde de trigo

JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil deve gastar este ano mais de US$ 1 bilhão com a importação de 6 milhões de toneladas de trigo no ano comercial 94/95 (agosto a julho), segundo a Folha apurou junto ao mercado.
Se confirmada, a previsão representará um incremento de 12% sobre a importação de 93/94 (5,3 milhões de toneladas, de acordo com a Conab).
A maior importação do país foi realizada em 92/93 (5,8 milhões de toneladas).
As compras de grão da Argentina também devem superar o recorde anterior de 4 milhões de t, registrado no ano comercial 92/93, de acordo com o mercado.
A importação de trigo argentino pode alcançar 4,5 milhões de t em 94/95, consolidando o Brasil como o principal mercado de trigo para os produtores argentinos.
O Brasil já é o segundo maior importador de trigo do mundo.
Até a semana passada, cerca de 1,8 milhão de t de grão argentino tinha sido contratado pelas empresas brasileiras.
Mais 500 mil toneladas do Canadá devem desembarcar no Brasil em janeiro, segundo empresários do setor moageiro.
As importações totais só serão menores se o governo implementar uma política agressiva de leilões para baixar os preços no mercado interno, diz Lawrence Pih, diretor do Moinho Pacífico.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) não confirma a previsão de importação feita pelo mercado.
A empresa calcula que o Brasil compre no mercado externo em torno de 5,5 milhões de t.
O aumento das importações está sendo puxado pelo aquecimento do consumo interno, provocado pelo Plano Real.
Estimativa da Agência Safras, de Porto Alegre (RS), aponta um consumo total de 8,3 milhões de toneladas em 94/95, com elevação de 10% em relação à demanda de 7,5 milhões de t, registrada em 93/94 pela Conab.
O número reflete a expectativa de empresários dos moinhos, importadores e analistas ligados a cooperativas.
Segundo a projeção da Agência Safras, as indústrias consumirão 8 milhões de t (7,2 milhões em 93/94) e 300 mil t serão aproveitadas como sementes.
Os preços no mercado externo estão mais elevados este ano, devido à quebra da safra no Canadá, Austrália e China.
Estima-se que a produção mundial tenha caído de 556 milhões de t, em 93/94, para 525 milhões de t na safra atual.
Mesmo assim, a defasagem do dólar no Brasil praticamente elimina o efeito da quebra da safra mundial.
O produto nacional de qualidade inferior vale em São Paulo pelo menos R$ 155 (US$ 182), excluídos os custos de frete.
O grão canadense, pelos cálculos de empresários, vale em São Paulo US$ 215/t (R$ 183/t).
Na semana passada, o governo brasileiro acertava os detalhes sobre a volta da Portaria 168, prevista para vigorar de setembro a janeiro, mas suspensa pelo Ministério da Fazenda.
A portaria eleva o imposto de importação de 10% para até 20% nas compras fora do Mercosul, devendo valer de janeiro a abril.
Ela foi negociada pelo ministro da Fazenda, Ciro Gomes, com seu colega argentino, Domingos Cavallo.
"A medida é um gesto de boa vontade do Brasil com a Argentina. Seu impacto nos preços será desprezível. Os moinhos estão abastecidos até março", afirma Lawrence Pih, diretor do Moinho Pacífico.
"É um guarda-chuva para o produtor argentino", diz um técnico do governo brasileiro. A portaria deveria ter vigorado entre setembro e dezembro, mas foi suspensa pelo governo, sob pressão dos moinhos.
O mercado interno de trigo permanece praticamente paralisado. Os moinhos estão descobertos apenas a partir de abril do próximo ano, o que impede uma pressão altista no mercado argentino.
Há duas semanas o preço do trigo subiu US$ 3 em Buenos Aires.
A alta foi provocada pelas negociações entre os governos brasileiro e argentino em torno do aumento na alíquota provisória sobre as importações do produto.
A elevação não se sustentou e as cotações recuaram para o patamar de US$ 135 em Buenos Aires, para entrega este mês.

Próximo Texto: Política não funciona bem
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.