São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 1994
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Robert Altman investiga o planeta fashion

EVA JOORY
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK

O glamour do mundo fashion chega finalmente às telas de cinema. "Prêt-à-Porter", o novo filme de Robert Altman, estréia nos EUA no próximo dia 25, cercado pela megapromoção "veja o filme, leia o livro e ouça a música".
Em 1994, as atenções se voltaram mais do que nunca para o mundo da moda, transformando as temporadas de desfiles no novo hype da mídia. O glamouroso mundo das top models e dos estilistas finalmente substitui Hollywood aos olhos do público.
O cinema já havia flertado com a moda em 1956, no filme "Funny Face", de Stanley Donen, com Audrey Hepburn e Fred Astaire. E o próprio Altman dirigiu dois curtas sobre moda, "Fashion Fair" e "The Model's Handbook", com Eileen Ford, da agência de modelos Ford.
No vocabulário fashion, prêt-à-porter significa roupa para o dia-a-dia ou, em uma tradução mais literal, pronta par usar. O filme chega aos EUA com a tradução literal: "Ready To Wear".
Um dos maiores trunfos de "Prêt-à-Porter" é seu elenco. O filme, falado em cinco idiomas –francês, italiano, inglês, russo e espanhol–, reúne 38 atores e convidados especiais, entre eles Julia Roberts, Lauren Bacall e Marcello Mastroiani.
Altman, 69, participou de uma sessão de autógrafos do recém-lançado livro "Prêt-à-Porter", em Nova York, na semana passada. Idealizado por Fabien Baron (diretor de arte da "Harper's Bazaar"), o livro reúne diários das filmagens, desenhos, depoimentos, roteiros iniciais, fotos e anotações pessoais de Altman. Na saída, Altman falou com exclusividade à Folha sobre o filme, que estréia no Brasil em março.

Folha - Qual o motivo da mudança do nome do filme nos EUA, que acarretou um atraso na estréia?
Robert Altman - Porque nos EUA, principalmente no interior do país, ninguém sabe o que é prêt-à-porter e ninguém conseguiria pronunciar essa palavra francesa. Atrasamos a estréia para poder legendar o filme novamente.
Folha - O sr. gosta de investigar a fundo em diversos segmentos da sociedade –a música country em "Nashville", Hollywood em "O Jogador". Como foi viver no mundo da moda?
Altman - Foi uma experiência fascinante. Foi como penetrar numa arena. Muita gente diz que o mundo da moda é um circo e, se esse for o caso, então é um circo maravilhoso. Eu já vinha desenvolvendo este projeto há mais de uma década, mas eu nunca havia conseguido o dinheiro necessário para o filme.
Folha - Sua visão sobre moda mudou agora?
Altman - Eu nunca tive nenhum tipo de visão particular sobre moda. Tenho grande admiração pelos estilistas, que, na minha opinião, são verdadeiros artistas. Quem estraga a indústria da moda é gente de marketing. São iguais em qualquer meio, cruéis.
Folha - A estilista francesa Sonia Rykiel foi a influência principal para seu filme?
Altman - Não foi nem uma influência nem uma inspiração. Ela é uma grande amiga, que me ajudou muito a começar meu filme. Foi vendo um desfile dela há 11 anos que fiquei fascinado por moda e em fazer este filme.
Folha - O que o sr. achou das pessoas do meio com quem trabalhou –modelos, estilistas?
Altman - Todos foram maravilhosos, com exceção da imprensa, que foi nojenta. Jornais como "WWD" e "National Enquirer" se ocuparam fazendo fofocas sobre as filmagens. O filme é também sobre isso, sobre como a imprensa se promove às custas dos outros. Este circo em que dizem que a moda se transformou é culpa da imprensa. Hoje um jornalista escreve qualquer coisa; apuração e exatidão não existem mais. E não há represália, porque, sem a imprensa, não existe moda.
Folha - O sr. compara o mundo da moda hoje com Hollywood de anos atrás?
Altman - Hoje ambos são iguais. O hype é o mesmo, mas não acho que a moda atraia mais curiosidade do que Hollywood. O sistema é o mesmo. Existem alguns artistas na base de tudo. O resto é marketing.
Folha - O seu filme revela segredos da indústria da moda e consegue satisfazer a curiosidade das pessoas sobre este universo glamouroso?
Altman - Não. O filme é uma farsa. Não gosto nem que chamem meu filme de sátira. É uma farsa leve e muito engraçada.
Folha - Então, ao contrário do que muita gente pensa, o sr. não ataca o mundo da moda em "Prêt-à-Porter"?
Altman - De jeito nenhum. Meu filme é uma investigação sobre este mundo. Apenas isto.
Folha - Quais são seus próximos projetos?
Altman - Vou dirigir "Angels in America" (atual sucesso na Broadway) e rodar um filme chamado "Kansas City", sobre jazz e política nos anos 30.

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