São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 1994
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Exposição reúne paisagistas brasileiros

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não há gênero mais memorável na história da arte do que a paisagem. Como lembra João Cândido Galvão, curador da coletiva de artistas brasileiros contemporâneos que trabalham o tema –à mostra na Galeria São Paulo até 8 de janeiro–, os primeiros registros da vida humana foram paisagísticos.
Desde que retratado por estrangeiros no século 16, o Brasil foi sempre terreno fértil para a representação de paisagens. Artistas contemporâneos seguem essa tradição e recriam cenários-outdoors com posturas diferentes.
Trabalhando com 18 artistas que já mostraram trabalhos na galeria de Regina Boni, Galvão criou subgrupos estéticos, relativos à maneira de se portar frente ao mundo externo.
Sob o tema "Paisagem Reconhecida" ficaram obras figurativas, em que os cânones da representação estão claramente delineados. Aqui se incluem telas "naive" de Antonio Poteiro, surrealismos de Roberto Magalhães, dois trabalhos expressionistas em que a figura é quase diluída, de autoria de Cristina Canale.
E uma celebrativa e multicor obra de Siron Franco, em que um certo apelo ecológico é criado por números circundando os galhos de árvores que brotam da tela.
"Paisagem Recortada" reúne artistas que não apenas cortam, mas também ocultam. Editam seu material de expressão pictórica. Nessa categoria, está Luiz Paulo Baravelli, com construções de madeira pintada e recortada.
"Paisagem Nova" lembra um serrote, enquanto "Primeiro Lago" é mais bucólico, combinando verdes e azuis. Megumi Yuasa faz árvores de cerâmica, em série, pequenas e literais. Evandro Carlos Jardim repete o tema árvores. Só que elas são pintadas em locais estratégicos, ocupando cantos de uma tela negra.
Patricia Furlong mostra três cenas urbanas feitas em cópias eletrostáticas. E Valdir Sarubi parece ter usado microscópios para estampar, sobre papel, seus cristais de areia, feitos, na verdade, com tinta acrílica.
É na categoria "Paisagem da Memória" que estão as mais interessantes obras da coletiva. A edição dos trabalhos aqui é menos técnica, ligada a mídias e materiais, e mais emocional, onírica.
Herman Tacasey xilografa cores superpostas sobre tecido; Maria Tereza Louro usa pequenas interferências sobre telas em vermelho-vivo; Antonio Dias constrói um panorama com seis folhas de papel nepalês, carimbado com cores terra, cobres, marrons e símbolos como martelos e chocalhos.
Leonilson faz uma alegoria emocional de "Tempestade no Coração", representada com roxos e dourados.
Em "Garimpo", Pinky Wainer pincela, em camadas de azuis, figuras como a pantera, a flecha, as mãos. Da tela "Le Palais des Merveilleus", vermelha, brota uma escada, símbolo da ascensão.
Sérgio Fingerman exibe duas telas, uma com fundo amarelo, outra com vermelho. Sem título, elas esboçam formas geométricas, ensaiam a construção de árvores.
Três outros artistas focam os detalhes dessas memórias paisagísticas. Da paisagem, pinçam apenas detalhes. Numa sequência de oito xilos, Jose Spaniol alterna cores escuras, lembrando florestas; Celso Renato pinta troncos de árvores; Osmar Pinheiro retrata o olhar específico sobre aspectos da natureza.

Mostra: Paisagens, coletiva com Antonio Dias, Leda Catunda, Pinky Wainer e Valdir Sarubbi, entre outros
Onde: Galeria São Paulo (r. Estados Unidos, 1.456, tel. 011/852-8855)
Quando: Segunda a domingo, das 10h às 22h, até 8 de janeiro

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