São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 1994
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Gil grava discos e canta em quatro continentes

Cantor ironiza 'indolência' baiana e trabalha sem parar

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Gilberto Gil está com a agenda cheia. Acabou de gravar um disco e entra de novo em estúdio em abril. Quer musicar trechos de "Estorvo", romance de Chico Buarque. E aumenta sua internacionalização com shows em quatro continentes –em um deles, com Cesaria Evora, Youssou N'Dour e Stevie Wonder.
Menos de um mês depois de registrar um disco, Gil começa a conceber o próximo álbum, que grava em abril. Ele quer falar de ciência e arte.
Antes da morte de Tom Jobim, ele pensava em pedir que o maestro arranjasse a nova "Você e Você". Agora, pensa em gravar alguma música de Tom.
Outra surpresa. Gil quer musicar parte de "Estorvo". "Penso em utilizar alguma coisa do texto, em forma de rap ou de jogral. Já tenho alguns trechos selecionados. Eu contei pro Chico e ele achou engraçado. Não é brincadeira. É um grande desafio."
O disco terá uma música com Carlos Rennó e um samba-enredo de Cartola. O cantor deseja fazer uma parceria com Arnaldo Antunes. E quer fazer outra música com Caetano Veloso.
Já o último disco, ainda sem nome, foi gravado em Oslo (Noruega) em parceria com o baixista Rodolfo Strotter. "É um disco idealizado por ele, realizado e produzido por nós", explica Gil.
Apesar da internacionalização do grupo, o disco é bem brasileiro, com regionalismos, como xotes e emboladas. São 12 canções, sete delas têm a mão de Gil.
Duas são parceria com Strotter: "Xote" e "Caô". "Ciranda" foi feita com o maestro Moacyr Santos. Gil divide "Eu te Dei Meu Ané" com Marlui. Mas o repente "Rep", ele fez sozinho.
No disco, Gil resolveu cantar pela primeira vez duas músicas antigas que havia feito para outros cantarem: "Língua do P" e "Músico Simples". No disco há também uma canção inédita de Vinicius de Moraes com Moacyr Santos –"Santinha".
Mas Gil não pretende ficar enfurnado em estúdios. No final de maio, ele passa duas semanas no Senegal, em um projeto do cantor Youssou N'Dour, com vários artistas, como Stevie Wonder e Cesaria Evora. "É um encontro interativo. Um grande workshop só com artistas negros. E deve pintar alguns shows", diz.
Em setembro, está agendado um show no Royal Albert Hall, em Londres, com a presença dos participantes do encontro.
O cantor tem planos de percorrer o mundo. Ele quer convencer Caetano a estender o duo até o Japão. Se conseguir será sua quarta vez no país. Certo mesmo, por enquanto, é levar seu show 'unplugged' para os EUA, em março, e para a Europa, em junho.
No próximo ano, Gil deve voltar à Jamaica para participar do Reggae Sunsplash Festival. E lastima que não visite muito os vizinhos latinos. Só foi uma vez ao Uruguai e à Venezuela.
Além disso, Gil ainda não decidiu se aceita o convite para musicar um poema inédito de Cazuza –que deve servir de tema para um filme nacional.
Com tantos compromissos, Gil ainda brinca com o rótulo de preguiçoso, impingido aos baianos. "Comigo isso não colou. Gostaria que tivesse colado", ri.

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