São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 1994
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Qualidade de vida e o Mercosul

SÉRGIO MAUAD

A união faz a força. Assim entendemos o Mercosul: a união dos segmentos produtivos do cone Sul objetivando o crescimento uniforme; compartilhando experiências, soluções criativas, inovações tecnológicas e mercadológicas.
Neste sentido os profissionais do mercado imobiliário devem aglutinar seus talentos e esforços por um mercado que trará repercuções políticas e sociais altamente positivas.
Vale analisar os novos rumos da incorporação imobiliária brasileira, seus diferentes cenários, bem como as tendências futuras, fatos que, sem dúvida, têm impacto no contexto global do Mercosul.
Num país, a indústria da construção civil e imobiliária é importante via de ativação do desenvolvimento auto-sustentado. Sua dinâmica é instrumento de alívio de tensões sociais, pelo que emprega e pelo que produz.
No Brasil, cada emprego direto gera dois outros indiretos. Estimativas indicam 4 milhões de empregos diretos e 8 milhões de indiretos. Ou seja, 12 milhões de trabalhadores. Responde por 7% do PIB, chegando a 21% quando considerados os segmentos correlatos. Em cada nação do cone Sul, esta relação, em maior ou menor grau, também existe.
Mecanismos de captação de recursos para as atividades foram recém-criados, como os fundos de investimento imobiliário e as novas modalidades de comercialização, como consórcio de imóveis e autofinanciamento.
Há uma tendência em dirigir-se parte dos recursos da previdência privada para o financiamento à produção e aquisição de moradias, o que representaria volumes substanciais no setor.
Também, enfoca-se reformar, via revisão constitucional, o sistema previdenciários do país, tornando-o preponderantemente privado. É outro poderoso instrumento de mobilização de recursos. Seria mais uma alavanca para o fomento de recursos para o financiamento habitacional.
A capacidade instalada de produção tem mostrado sua agilidade. Produzimos, na cidade de São Paulo, nos oito primeiros meses de 1994, cerca de 12% a mais que em igual período de 1993. E a velocidade de vendas, medida pelo Secovi-SP, acusou 27% maior em 1994 do que em 1993.
Se temos um déficit de 12 milhões de moradias, é surpreendente, também, o volume de oportunidades imobiliárias que acompanharão este abastecimento.
Haverá demanda para empreendimentos comerciais e de serviço, indústrias, laser e turismo, que, num processo auto-alimentado, oferecerão um enorme campo de investimentos e de produção.
Lembremos que o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso tem uma filosofia liberal e modernizante. Deverá empenhar-se na ampla abertura do mercado nacional, incentivando joint ventures, o ingresso de capital externo e o justo tratamento a esses recursos. Fará do desenvolvimento sua maior bandeira.
A autoconfiança dos agentes econômicos voltou à cena nacional. Não será estranho se, muito em breve, o Brasil despontar no contexto mundial como o país que mais cresce e melhora seus indicadores sociais e de desempenho.
Isto é sintoma das grandes reformas estruturais que se avizinham, notadamente no campo da revisão constitucional. Com ela, a reforma do papel do Estado, a flexibilização dos monopólios, a reforma fiscal e previdenciária, serão medidas que facilitarão a formação de grandes parcerias com a comunidade internacional e que beneficiarão o desempenho do Mercosul. Estimularão o investimento e o desenvolvimento.
O Brasil tem, hoje, um novo perfil socioeconômico, em função do bom andamento do Plano Real. A sociedade deixou de pagar imposto inflacionário, circunstância que modificou o mercado imobiliário.
Mudanças culturais estão ocorrendo, revelando novas tendências. Unidades habitacionais compactas, antes inaceitáveis pelo público, passaram a ser buscadas. Adaptou-se, com isso, o preço do imóvel ao bolso do comprador.
Nas empresas organizadas, pautadas pela qualidade total e pela excelência, os métodos construtivos e os sistemas gerenciais reduziram em mais de 20% os custos de produção, nos três últimos anos. Projetos dirigidos ao melhor conforto do usuário vêm sendo primorosamente elaborados. Praticidade e funcionalidade dão a tônica, acompanhando a tendência das cidades do Primeiro Mundo.
Num processo de evolução cultural, já estamos assistindo à assimilação, nas classes média e média baixa, do conceito da "family room". Mais do que uma simples integração da cozinha à sala de estar, é o forte indício da necessária evolução arquitetônica.
Há, também, os aspectos referentes à segurança, lazer e integração comunitária, todos eles proporcionando melhor bem-estar aos usuários.
Produtos diferenciados surgem para atender a uma crescente faixa de mercado: o morador solitário. Lamentavelmente, o número de casamentos e divórcios no Brasil justifica o fato de o volume de unidades com um só morador ter crescido 39% de 1981 a 1987.
Os números reiteram, ainda, a grande necessidade de um mercado de aluguel dinâmico. Até 1970, um terço da produção imobiliária era absorvido por investidores em imóveis de aluguel. Desastrosas ingerências governamentais no setor afastaram os investidores, reduzindo-os a quase zero.
A situação, porém, tende a ser revertida com a recente revisão da legislação do inquilinato; com mais confiabilidade no governo, é mercado com demanda garantida.
O Mercosul é o caminho para os mais expressivos avanços empresariais, num curto espaço de tempo. Permitirá a troca de experiências, o intercâmbio de soluções tecnológicas e mercadológicas para problemas habitacionais e urbanos. Através disso, redução dos custos dos insumos, ampliação do mercado fornecedor e melhoria na qualidade dos produtos.
E o processo já começou. Entre outras, brasileiras, há uma incorporadora, bem como uma usineira de concreto atuando em Punta Del Leste, no Uruguai. Da Argentina, uma incorporadora, associada a um megainvestidor, uniu-se a uma empresa nacional e está desenvolvendo um shopping têxtil para atacadistas em São Paulo. As empresas de fora tendem a vir sempre em parceria com as brasileiras.
Estamos falando de uma região cujo Produto Nacional Bruto é de aproximadamente US$ 700 bilhões. Países que integram nada menos que 200 milhões de pessoas. O cone Sul tem tudo para ser mais um pólo desenvolvimentista no cenário internacional. E é através do Mercosul que alcançaremos esta condição, que proporcionará melhor qualidade de vida.

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