São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 1994
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Berlusconi sai depois de 226 dias no governo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, apresentou ontem a renúncia de seu gabinete ao presidente Oscar Luigi Scalfaro.
Berlusconi continua na chefia do governo enquanto o presidente realiza consultas para formação de um novo gabinete ou a convocação de eleições antecipadas.
Após a reunião com Scalfaro, ele disse que deseja continuar à frente do governo e convocar o quanto antes eleições antecipadas.
Sinto-me leve, retiraram um grande peso de cima de mim e creio ser necessário convocar imediatamente eleições antecipadas.
Scalfaro inicia as consultas hoje, reunindo-se com dois de seus antecessores, Francesco Cossiga e Giovanni Leone. As consultas serão interrompidas para o Natal e retomadas no próximo dia 27.
O presidente se reunirá ainda com os presidentes da Câmara (Irene Pivetti) e do Senado (Carlo Sconamiglio) e com os líderes dos principais partidos políticos.
Como premiê demissionário, Berlusconi será o primeiro a ser consultado para formar um novo governo na Itália.
O presidente pode optar pela indicação de um não-político, repetindo a escolha do antecessor de Berlusconi, Carlo Ciampi, em 93.
Nesse caso, um possível candidato é o juiz Antonio di Pietro. Até abandonar a Operação Mãos Limpas em 6 de dezembro, Di Pietro era a principal estrela das investigações de corrupção.
Pesquisa publicada em novembro mostrou que 24,4% dos italianos queriam que o juiz liderasse o governo caso o gabinete Berlusconi caísse. Na pesquisa, Berlusconi teve 11,9% das preferências.
Se não for possível formar um novo governo, Scalfaro convocará eleições antecipadas que serão realizadas entre 6 e 10 semanas após a dissolução do Parlamento.
O gabinete Berlusconi –53º desde a Segunda Guerra– durou 226 dias e foi derrubado pela decisão da Liga Norte de retirar o apoio ao governo.
Berlusconi renunciou antes de o Parlamento votar três moções de desconfiança –nas quais o governo provavelmente seria derrotado. As resoluções foram apresentadas pela oposição e pela Liga Norte.
O motim da Liga Norte comandado pelo seu líder Umberto Bossi dividiu o partido.
Segundo a agência AGI, cerca de um terço dos membros da Liga no Parlamento devem formar um grupo contrário à participação em um governo com os ex-comunistas do PDS (iniciais em italiano de Partido Democrático da Esquerda).
Nós formamos um grupo com cerca de 60 deputados e senadores liderados por Roberto Maroni (ministro demissionário do Interior). Estamos determinados a continuar na Pólo da Liberdade, com um novo governo que exclua o PDS mas abranja o PPI (Partido Popular, antiga Democracia Cristã), disse o senador Marcello Staglieno.
Maroni disse que a Liga quer continuar com seus atuais parceiros do Pólo –a Força Itália, de Berlusconi, a neofascista Aliança Nacional, a própria Liga, o Centro Democrático Cristão e outros pequenos partidos.
Já Bossi propõe a formação de um governo com o PDS e o PPI para realizar um programa de reformas institucionais antes de novas eleições.
A possível defecção do grupo de Maroni e a decisão da Refundação Comunista de não apoiar um governo do qual não participe deixa a Liga e os partidos da oposição com menos de 273 deputados.
São necessários 316 votos para obter a maioria.
A crise política fez com que a lira caísse diante do marco alemão e do dólar norte-americano.

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