São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 1994
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Fragmentação política deve levar a eleições

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O racha na Liga Norte, confirmado ontem à noite, praticamente torna inevitável a convocação de eleições antecipadas na Itália.
O novo pleito ocorreria menos de um ano depois das eleições que levaram ao poder o governo Berlusconi, demissionário.
A Liga Norte, o maior partido do desenvolvido norte do país, fazia parte da coalizão vitoriosa nas eleições de 1994, juntamente com Força Itália (de Berlusconi) e com a neofascista Aliança Nacional.
Com relutância, os nortistas de Umberto Bossi apoiaram a indicação do magnata da imprensa Silvio Berlusconi para chefiar o governo. Agora, derrubam o premiê deixando a coalizão.
Como parte de seus deputados racharam ontem com o partido para ficar com Berlusconi, torna-se muito difícil formar uma coalizão com maioria no Parlamento.
Há muitos partidos e muita indisposição entre eles para compor uma coalizão.
Massimo d'Alema, líder do PDS (ex-comunistas), afirmou ontem à noite à TV italiana que o país deverá votar novamente.
Isso apesar de a esquerda não ter interesse num novo pleito. As pesquisas de intenção de voto projetam uma nova vitória da direita, provavelmente de Berlusconi.
Regionalismo
As disputas regionais, que causaram a queda do governo do premiê Berlusconi, devem ser a chave para a formação do novo governo, com ou sem novas eleições.
A Liga Norte defende a adoção do federalismo no país, com mais autonomia para as regiões.
Com poucas exceções, as regiões italianas têm muito pouca autonomia. Dependem do governo central, em Roma.
As regiões do norte criticam fortemente esse sistema, argumentando que o Estado concede demasiados privilégios ao sul, menos desenvolvido.
Incentivos fiscais, créditos facilitados e outras vantagens não ajudaram a melhorar a situação no sul do país e limitaram o desenvolvimento do norte, diz a Liga.
O partido nasceu originalmente com uma proposta separatista. Queria a independência das regiões mais ricas.
Como o separação seria impossível (a Constituição italiana proíbe a Secessão), os separatistas adotaram o federalismo.
Querem um Estado federal, no qual as regiões tenham autonomia administrativa e fiscal.
Essa plataforma não foi posta em prática pelo governo Berlusconi. E nem poderia. O terceiro membro da coalizão, a Aliança Nacional, é herdeira do fascismo e partidária do Estado de direita social, centralizado e estatizante.
Assim, a possibilidade de formação de um novo governo num espectro político tão fragmentado e incompatibilizado depende do sucesso ou não da manobra da Liga Norte, que derrubou o premiê.
Se Berlusconi (ou outro candidato a primeiro-ministro) conseguir cooptar deputados "leghistas" suficientes para formar uma maioria, poderá evitar eleições.
Senão, serão os eleitores do norte que decidirão a governabilidade do país. Com uma nova votação forte, a Liga será não poderá ser excluída do novo governo.
Este, por sua vez, terá de tentar novamente administrar plataformas quase inconciliáveis.

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