São Paulo, sábado, 24 de dezembro de 1994
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Scalfaro tenta evitar nova eleição

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente da Itália, Oscar Luigi Scalfaro, iniciou consultas na tentativa de evitar uma eleição apenas nove meses depois da que levou ao poder o premiê demissionário, Silvio Berlusconi.
O gabinete liderado pelo empresário e político renunciou anteontem, antes de o Parlamento votar três moções de desconfiança –uma delas apresentada por seus ex-aliados da Liga Norte.
Berlusconi defende a convocação imediata de eleições para a constituição de uma nova maioria.
O premiê demissionário disse que aceitaria dirigir o governo até as eleições, que deveriam ser marcadas, segundo ele, para março.
Na entrevista coletiva de fim de ano, Berlusconi também afirmou não ser o único chefe de governo possível para a Itália.
Já o presidente Scalfaro acredita que eleições antecipadas só podem ser realizadas depois que o Legislativo introduzir modificações nas regras eleitorais.
Scalfaro também teme a repercussão de eleições antecipadas sobre a estabilidade da lira italiana.
Segundo o ministro demissionário Roberto Maroni (Interior), Scalfaro acredita que a convocação de eleições imediatamente seria uma catástrofe.
Maroni lidera uma facção moderada da Liga Norte, contrária ao rompimento com Berlusconi, mas que também se opõe à convocação de eleições antecipadas.
Os líderes das principais centrais sindicais italianas afirmaram, em carta enviada a Scalfaro, que são contra as eleições antecipadas.
Protestos dos sindicatos contra a decisão do governo de reformar o sistema de pensões foram uma das causas do seu enfraquecimento.
Um dia após sua renúncia, Berlusconi voltou a atacar o líder da Liga Norte, Umberto Bossi, a quem já chamara de renegado.
O premiê disse esperar que as tensões internas da Liga Norte levem a uma mudança de liderança.
Horas antes, Bossi disse ter derrubado o governo porque foi necessário parar com esse tipo de peronismo, de ditadura pessoal.
Berlusconi reagiu afirmando que Bossi deve estar falando da cerveja Peroni, o único tipo de peronismo que ele conhece.
Berlusconi confirmou que pretende vender uma grande empresa de seu grupo.
Scalfaro, 76, teve ontem reuniões com os ex-presidentes da Itália ainda vivos: Giovanni Leone, 86, e Francesco Cossiga, 66.
Nota da Presidência informou que Scalfaro também se reuniu com Umberto Bossi.
Depois dessas reuniões, as consultas foram interrompidas para o Natal e serão retomadas no próximo dia 27, com encontros com os presidentes da Câmara e do Senado e líderes partidários.
A fragmentação do Parlamento italiano pode levar à formação de um governo de transição liderado por um premiê afastado da disputa partidária atual.
Pesquisa do instituto Directa mostra que 72,8% dos entrevistados são favoráveis a essa idéia.
Nesse caso, o candidato predileto é o juiz Antonio di Prieto, com 51% de preferências, seguido pelo ex-presidente Cossiga (13,8%) e o ministro Maroni.
Caso ninguém consiga formar um gabinete, Scalfaro dissolverá o Parlamento e convocará eleições antecipadas para um período entre 6 e 10 semanas mais tarde.

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