São Paulo, sábado, 24 de dezembro de 1994
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Mercados em emergência

Ainda é cedo para avaliar o impacto material e psicológico da desestabilização mexicana. Na tentativa de impedir a desvalorização do peso, o governo queimou em vão cerca de metade das reservas do país em apenas dois dias. Vieram em socorro dos mexicanos os EUA e o FMI. Mas, como nos terremotos que às vezes abalam o próprio México, ainda paira no ar a angústia com possíveis abalos secundários.
Os efeitos negativos são bastante evidentes. O principal é de ordem política e psicológica. O México tornara-se, para a comunidade financeira internacional, a menina dos olhos capaz de servir de exemplo ao ajuste econômico de toda a América Latina. Não foi por acaso que, também no Brasil, à falta de um ajuste fiscal suficiente, ancorou-se até agora o Plano Real na valorização cambial e na liberalização comercial financiadas por afluxos crescentes de capitais externos.
É a confiança nesse modelo, e no país que o assumiu há mais tempo, que sai abalada do episódio. Desvalorizar a moeda e ao mesmo tempo buscar amparo no congelamento de preços e salários são medidas reconhecidamente inconsistentes.
A maior incógnita, entretanto, de interesse direto para a economia brasileira, diz respeito à possível reverberação do tremor mexicano em outros mercados. De um lado, parece inevitável esperar a partir de agora uma atitude mais cautelosa dos investidores internacionais frente a toda a América Latina e mesmo frente a outras economias ditas emergentes (papéis do Leste europeu também sofreram em decorrência do sinistro mexicano).
Nem tudo, entretanto, será necessariamente ruim. Em primeiro lugar, é importante e oportuno para o Brasil que o modelo de âncora cambial seja repensado. Há também visões mais otimistas que esperam, agora que a estabilização mexicana está em questão, interesse crescente dos investidores pelo Brasil, cuja economia apresenta condições bastante positivas.
Pensando no médio prazo, sem dúvida, não há razões para cair num pessimismo ciclotímico. O raciocínio vale até mesmo para o México. Se superada essa turbulência, os ativos mexicanos serão novamente vistos como baratos e as entradas de capitais podem aos poucos reanimar-se.
Resta torcer para que o Brasil saiba tirar do episódio os ensinamentos adequados.

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