São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Terra passa a ser alvo da campanha de Betinho

AZIZ FILHO
DA SUCURSAL DO RIO

A Ação da Cidadania Contra a Miséria e Pela Vida deverá enfrentar em 95, seu terceiro ano de existência, o primeiro grande embate político-ideológico.
A doação de comida e a criação de emprego foram os temas das campanhas em 93 e 94. Não suscitaram maiores questionamentos.
Em 95, a meta será a reforma agrária, que o sociólogo Herbert de Sousa, o Betinho, chama de "democratização da terra".
"A expressão 'reforma agrária' suscita confronto ideológico. O importante é buscar consenso e resultados", diz Betinho, coordenador da Ação da Cidadania.
A Ação da Cidadania é um desdobramento do Movimento pela Ética na Política, que reúne entidades da sociedade civil.
Em dois anos, cerca de 5.000 comitês contra a fome foram criados no país. Cada um tem uma média de dez integrantes, atuando em nome da solidariedade e sem um centavo do governo.
Descentralizado, o movimento não consegue calcular quantas toneladas de alimentos foram distribuídas no período aos 32 milhões de indigentes que, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), vivem no país.
Só para o Natal Sem Fome no Rio este ano, foram cerca de 600 toneladas, distribuídas sob a forma de 50 mil cestas com mantimentos para famílias carentes.
Esse exército de voluntários, motivado pelas conclusões do Mapa da Fome, do Ipea, é a base com a qual Betinho conta para forçar a inclusão da reforma agrária na agenda das urgências do país.
"Vamos pressionar a ociosidade das terras, dar exemplos de produtividade", afirma Betinho. "Vamos propor uma nova visão sobre a terra, questionar suas cercas e seu abandono."
Betinho quer fazer um abaixo-assinado nacional e entregá-lo ao próximo presidente, Fernando Henrique Cardoso, "para que ele coloque a terra como bem de todos e não privilégio de poucos".
Em julho deste ano, cerca de 2.000 pessoas participaram em Brasília da 1ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar, concluindo que a democratização da terra é a única maneira de se combater a fome de forma permanente.
O Ipea já indicou duas importantes armas na luta contra o latifúndio improdutivo. A primeira é a lei 8.629/93, que define critérios para as desapropriações.
A segunda é a lei complementar 76, a Lei do Rito Sumário, que cria procedimentos judiciais urgentes para as desapropriações.

Texto Anterior: ACM pretende lançar um livro de entrevistas; Sem-terra invadem fazenda em São Paulo; Índios e agricultores libertam reféns no MA
Próximo Texto: Ativista ganha salário mínimo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.