São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994 |
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'Acho que o país vai melhorar'
DA REPORTAGEM LOCAL Albertina Mariano Bastos chega ao final de 1994 mais otimista do que há um ano.Graças à campanha Natal Sem Fome, Albertina recebeu ontem uma cesta com 18 quilos de comida, entre arroz, feijão, açúcar, óleo, sal, macarrão, fubá, leite em pó, sardinha e farinha de trigo. "Se tenho o que comer em casa, estou feliz", diz ela. A campanha Natal Sem Fome, organizada por iniciativa da Folha, conta com o apoio das empresas de cartão de crédito American Express e Sollo, Pão de Açúcar, Arisco e grupo Safra. Albertina também está animada com a mudança de governo que ocorre em uma semana. "Acho que o país vai melhorar", diz. Ela vive desde 1959 num mesmo apartamento de um cômodo na Vila Alpina (zona leste de São Paulo). Hoje ela divide o espaço com o marido, dois de seus quatro filhos e dois de seus cinco netos. Aos 61 anos, acaba de se aposentar com um salário mínimo por mês. Atualmente, trabalha como diarista duas vezes por semana. "Tenho força e coragem para trabalhar todo dia", diz. Nascida em Pilão Arcado, no sertão da Bahia, Albertina chegou em São Paulo com 16 anos. Já era casada. "São Paulo é o coração do mundo. É o lugar que Deus abençoou", acha. Separou-se do marido, que batia nela, e se casou com José de Sena da Silva, com quem vive feliz há 36 anos. José também é aposentado. Com sua pensão, paga os R$ 110 mensais de aluguel e contas da quitinete onde moram e ainda dá R$ 30 para Albertina fazer algumas compras. "Não sobra nada, nunca", afirma. Apesar da penúria, não nega ajuda a quem precisa mais que ela. "Se alguém vem aqui na minha porta, eu dou". Ao dizer isso, Albertina chora um pouco. Relata que outro dia foi obrigada a recusar comida a uma mulher que vive nas ruas do seu bairro. "Eu dei um dia. Ela começou a vir todo dia. Tive que dizer que não dá". Muito religiosa, Albertina frequenta a Igreja Universal do Reino de Deus. "Não por causa do pastor, mas de Jesus." Por causa dos alimentos recebidos ontem, Albertina também teve condições de acrescentar frango à mesa no Natal. "Só ponho o braço onde alcanço. Eu sigo essa idéia. Graças a Deus, sou feliz", diz. Texto Anterior: Ativista ganha salário mínimo Próximo Texto: 'Esta cesta foi meu Papai Noel' Índice |
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