São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994
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As ilhas na vanguarda do tempo

HELIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um arquipélago de dez ilhotas pertencente à Nova Zelândia está sempre adiante no tempo. "Seremos os primeiros do mundo a ver o ano novo", disse à Folha por telefone o prefeito das ilhas Chatham, Patrick Francis Smith.
As Chatham vão entrar primeiro em 1995 graças a sua posição geográfica e a seu estatuto político.
O arquipélago de 963 km2 fica cerca de 800 km a leste do restante da Nova Zelândia. É longe o bastante para o Sol nascer por lá bem antes que no resto do país.
Isso fez as ilhas adotarem um fuso horário especial. Relógios nas Chatham ficam 45 minutos adiantados em relação ao horário da Nova Zelândia.
Até aí, nada distingue o arquipélago de outras ilhas ou regiões do planeta que adotam fusos horários quebrados (em vez de adiantar ou atrasar o relógio horas inteiras em relação ao horário do Meridiano de Greenwich, que passa por Londres).
Só que as Chatham estão situadas num local do planeta muito mais especial.
Bem a leste das ilhas passa uma linha imaginária conhecida como Linha Internacional da Data, espécie de prolongamento do Meridiano de Greenwich do outro lado do globo.
Essa linha serve para estabelecer a data em cada ponto do planeta e tornar o sistema de divisão da Terra em 24 fusos horários coerente com o calendário.
Quando se muda de fuso horário de oeste para leste, os relógios são adiantados uma hora. Mas, ao cruzar a Linha Internacional da Data, eles são atrasados 23 horas.
Isso é equivalente a adiantar o relógio uma hora e atrasar o calendário um dia inteiro (24 horas). Desse modo se mantém o horário coerente com a posição do Sol –mas a data muda.
Suponha, por exemplo, que sejam 15h do dia 30 de dezembro no Meridiano de Greenwich. Na Nova Zelândia, que fica do outro lado do globo –12 fusos horários a leste de Greenwich–, já são 4h na madrugada do dia 31 (12 horas de fuso, mais 1 hora do horário de verão neozelandês).
Já nas ilhas Midway, que ficam a nordeste da Nova Zelândia, ainda são 4h da madrugada do dia 30. Isso ocorre porque essas ilhas ficam do outro lado da Linha Internacional da Data –11 fusos horários a oeste de Greenwich.
No mesmo momento, porém, já são 4h45 da madrugada do dia 31 nas ilhas Chatham.
Como parte do território neozelandês, seria estranho que o arquipélago tivesse data diferente do país. Por isso, em relação à Nova Zelândia, o relógio nas Chatham é adiantado 45 minutos, mas a data não muda.
"A Linha Internacional da Data foi alterada para incluir as Chatham", explica o prefeito das ilhas. Isso ocorreu em 1842, ano em que o arquipélago foi anexado pela Nova Zelândia.
Enquanto o dia 31 de dezembro nem tiver começado nas ilhas Midway –ou seja, às 23h15 da véspera–, o próprio dia 31 já estará terminando na Nova Zelândia –às 23h15.
Nesse instante, nas ilhas Chatham já estarão espocando as primeiras rolhas de champanhe do ano novo. "Costumamos comemorar principalmente com cerveja, fabricada localmente", conta Val Croon, dono do Hotel Chatham.
O hotel fica na ilha Chatham, a maior do arquipélago. A única outra ilha povoada é a Pitt. Juntas, somam uns 750 habitantes.
Além do hotel de Croon, o arquipélago conta com mais uma estalagem e um motel. Não há mais vagas para o ano novo.
Há uma agência de banco, que também serve de correio. Um hospital. Uma ambulância. Um aeroporto, a 21 km do principal povoado, a "capital" Waitangi. Há também quatro escolas.
Duas companhias aéreas fazem vôos diários, que levam à Nova Zelândia passageiros e o produto da pesca nas ilhas.
Uma vez ao mês, aproximadamente, um barco das ilhas Cook traz suprimentos e liga as Chatham ao que os próprios nativos chamam de Nova Zelândia.
Os 435 eleitores do arquipélago elegem, a cada três anos, o prefeito e oito membros para o Conselho do Condado das Ilhas Chatham.
"Temos uma infra-estrutura turística bastante precária", diz Terry Melville, gerente-geral do conselho. Com temperatura em torno de 15oC agora no verão, a maior atração turística das ilhas parece mesmo ser o horário adiantado.
"Estamos reunindo fundos para preparar um grande carnaval daqui a cinco anos, quando seremos os primeiros a receber o ano 2000", diz o prefeito.

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