São Paulo, terça-feira, 27 de dezembro de 1994
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Risco de leptospirose aumenta em SP

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

As chuvas de verão que estão atingindo São Paulo abrem uma estação rotineira: a temporada da leptospirose, doença transmitida pela urina de ratos de esgoto que vai afetar dezenas ou centenas de pessoas, matando em média uma em cada dez delas.
Dados do Centro de Controle de Zoonoses da prefeitura paulistana e da Secretaria Estadual da Saúde mostram que a incidência da doença acompanha o volume de chuvas. Do fim de dezembro a março acontece a maioria dos casos.
"As estatísticas geralmente aceitas sobre metrópoles dizem que há um ou dois ratos por habitante. Pesquisas nossas indicam que 10% da cidade tem problema de ratos", diz o veterinário Arnaldo Villanova, diretor do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ).
No ano passado, foram contadas 373.450 tocas de ratos na capital paulista. A prefeitura tratou com raticida 74.088 bueiros e 193.528 moradias em favelas e cortiços.
Acidentes com ratos mordendo pessoas são até mais comuns. Há entre 30 e 40 casos de mordida de rato em São Paulo por mês –ou seja, a cada dia há um rato mordendo alguém em algum lugar.
Em locais infestados, pode haver de 10 a 15 ratos por pessoa. Essas regiões ficam em fundos de vale, áreas de risco de enchente ou onde há acúmulo de lixo.
São locais como o córrego do Cabuçu de cima e o córrego do Cabuçu de baixo, na zona norte; o córrego Aricanduva, a Vila Nitro-Operária e o córrego Itaquera, na zona leste; o córrego Águas Espraiadas, na zona sul; ou o córrego Pirajussara, na zona oeste.
Na última temporada da doença, no começo de 1994, a região próxima ao córrego Aricanduva apresentou um surto de leptospirose. Em anos anteriores, foi em outros pontos da cidade.
Basta, de algum modo, a pessoa entrar em contato com a bactéria leptospira, presente na urina dos ratos e que se espalha com a chuva.
Os sintomas não são imediatos. Surgem de 5 a 7 dias depois da infecção pela bactéria, que penetra geralmente através de feridas, mas que pode entrar pelos poros mais abertos de pessoas que ficaram muito tempo expostas à água.
Os sintomas básicos são febres e dores musculares.
Os animais domésticos são vítimas potenciais, principalmente os cães que não foram vacinados contra a doença. O gato, um dos inimigos naturais dos roedores, são bem mais resistentes.
Pesquisa do CCZ mostrou que cerca de 20% dos cães de rua eram "soropositivos" em relação à leptospira –isto é, foram infectados e apresentaram reação no sistema de defesa. Os pesquisadores encontraram a bactéria viva em 6% dos cães de rua analisados.

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