São Paulo, sábado, 31 de dezembro de 1994
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Banespa detém 64% dos empréstimos do BC

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

O Banespa está com 64% das linhas de empréstimo do Banco Central e para socorrer a instituição o governo federal deverá aportar US$ 10 bilhões. A avaliação é de Alberto Borges Matias, sócio da consultoria Austin Asis e professor da Faculdade de Economia e Administração, da USP.
O Plano Real determinou a crise no Banespa ao reduzir a inflação e tirar assim a principal fonte de receita da instituição, diz.
Segundo ele, o ganho (da ordem de US$ 1 bilhão) até junho de 94 vinha de depósitos à vista que as estatais e o governo estadual faziam na instituição. O governo estabeleceu com o Plano Real que todas as instituições financeiras fizessem o compulsório de 100% dos depósitos à vista no BC, como forma de segurar a expansão inflacionária de dinheiro na economia. A medida foi fatal para o Banespa.
O patrimônio líquido (recursos próprios) da instituição caiu de US$ 1,34 bilhão em junho de 94 para US$ 1,29 bilhão em outubro.
O Banespa estava "forçando" a captação em CDBs (Certificados de Depósito Bancário) de US$ 4 bilhões em suas agências através do pagamento de juros altos.
Uma das características do banco era captar dinheiro a curto prazo (poupança, depósito a prazo e interfinanceiro) e aplicar em operações de crédito a longo prazo para as empresas públicas. As estatais não vinham honrando seus compromissos, faziam apenas a "rolagem" das dívidas, comprometendo as finanças do banco.
A principal fonte de recursos do Banespa era o dinheiro público. O Banespa captou no redesconto do Banco Central US$ 878 milhões em outubro e recebeu na mesma época ajuda de US$ 386 milhões de instituições oficiais. O dinheiro captado nos bancos oficiais foi basicamente para fazer os depósitos compulsórios no BC (de US$ 358 milhões) na mesma época.
O Banespa não considerou débitos trabalhistas de US$ 83 milhões em seu balanço de junho último. Os débitos trabalhistas considerados (US$ 2 bilhões) já superavam o patrimônio líquido (recursos próprios) da instituição, diz Matias.
O Banerj também apresentava problemas sérios: os créditos de liquidação duvidosa (contas a receber em atraso) representavam 23,65% do total em junho.

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