São Paulo, sábado, 31 de dezembro de 1994
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Fleury esmurra mesa e chama decisão de 'covarde'

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho, reagiu à intervenção do Banespa dando murros na mesa e atribuindo a decisão a uma "covardia e irresponsabilidade" da equipe econômica do governo federal.
Para Fleury, a intervenção tem como objetivo beneficiar o futuro governador paulista, Mário Covas (PSDB), e os bancos privados. "Os bancos privados, que sempre quiseram acabar com o Banespa, estão comemorando".
Ao contrário de Covas, a notícia sobre a intervenção pegou Fleury de surpresa. Só ficou sabendo oficialmente da decisão às 2h da madrugada. Ao meio dia de ontem, penúltimo dia de seu governo, estava bastante contrariado.
"Uma equipe econômica que age na calada da noite não merece respeito", declarou. Segundo ele, o ministro da Fazenda, Ciro Gomes, e o presidente do Banco Central, Pedro Malan, "mentiram" para ele sobre o Banespa.
"Foi uma medida covarde por ter sido tomada no último dia do meu governo", afirmou, durante entrevista. "Foi uma mesquinhez, uma pusilanimidade". Em seguida, deu murros na mesa e comentou: "Foi uma cafajestada".
O governador disse que a intervenção foi uma "medida puramente política". Informou que a Nossa Caixa Nosso Banco tentou evitar a intervenção, oferecendo R$ 1 bilhão para cobrir o déficit de R$ 1,4 bilhão do Banespa.
Segundo Fleury, o BC não aceitou essa garantia. "Foi uma violência. Por que isso no último dia do governo?", disse. "Por que não fizeram isso em setembro, quando o banco começou a enfrentar problemas?"
Para o governador, só há duas explicações para a intervenção. A primeira é a de contribuir para que Covas tente sanear o banco pelo uso da "mão de gato" dos interventores do BC.
"O próximo governo não vai ter desgaste na adoção de medidas duras em relação aos funcionários do banco", afirmou. Segundo ele, Covas pode alegar que as medidas são de iniciativa dos interventores.
Se a intervenção não tem esse objetivo, disse, resta a segunda explicação, a de "retaliação e violência" contra seu governo.
O governador também entendeu a intervenção como uma "agressão" contra São Paulo. "Tenho visto o ministro da Fazenda agredir São Paulo à vontade. Isso é mais uma agressão", afirmou.
Para o governador, não havia "necessidade" da intervenção porque o Banespa havia adotado todas as medidas de saneamento sugeridas pelo BC. Tais medidas incluiam o parcelamento da dívida e fechamento de agências.
O governador disse também que o Banespa não ampliou suas dívidas em sua gestão. Para ele, a dívida do Banespa foi herdada por ele dos governadores que o antecederam.

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