São Paulo, sábado, 31 de dezembro de 1994
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Frases de efeito ilustram e não inspiram

REINALDO AZEVEDO; NILSON DE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO

Fleury conservava na parede de uma de suas salas no Palácio dos Bandeirantes quatro máximas do orador latino Marcus Tulius Cicero (106 a.C. - 43 a.C.). Tivessem elas servido de divisas de sua administração, e Mário Covas, estaria nadando em dinheiro.
Igualmente, o já quase ex-governador de São Paulo não teria de dar explicações sobre sua aposentadoria, tão legal quanto precoce, conquistada aos 45 anos ("e não 46, como andam dizendo", advertiu à Folha).
Recomendava o vetusto latino sobre as contas do governo: "O orçamento nacional deve ser equilibrado". E ainda: "As dívidas públicas devem ser reduzidas".
No capítulo das relações pessoais com o poder, cotidianamente, Fleury convive com a seguinte recomendação: "As pessoas devem novamente aprender a trabalhar em vez de viver da coisa pública".
Em outra das paredes do salão, trechos da "Declaração Universal dos Direitos Humanos" faziam o contraponto ao massacre de 111 presos da Casa de Detenção do Carandiru, promovido pela Polícia Militar do Estado em 2 de outubro de 1992.
Se Fleury não acata Cicero nos dons do pensamento, também não o imita no temperamento.
O latino foi exemplo de boa retórica e de mau humor. Fleury está de bem com a vida. Camisa listrada azul e branca aberta ao peito, corrente de ouro no pescoço, o governador parece reconciliado com sua biografia.
Nem mesmo o clima de fim de festa que baixou no palácio do governo –emblematicamente traduzido na roupa amarfanhada do garçom, com parte da camisa fora da calça– parece afetar aquele que comandou o Estado mais rico da Federação.
"Café com açúcar ou com veneno?", pergunta o garçom aos entrevistadores referindo-se ao adoçante artifical. O governador preferiu com "veneno".
(Reinaldo Azevedo e Nilson de Oliveira)

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