São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994
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Brian Eno influencia o 'movimento'

NIKKI NIXON
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Brian Eno influencia o "movimento"
No final dos anos 80 um tipo diferente de música era tocada nos clubes a partir das quatro ou cinco da manhã, quando o público suado e já não tão "ligado" pelo Ecstasy começava a relaxar e se preparar para voltar para casa. Poucas batidas por minuto, melodias edificantes e samplings de cantos de pássaros ou outros efeitos sonoros da natureza, caracterizavam esse estilo que passou a ser chamado de "ambient music".
A receptividade foi suficiente para que em pouco tempo projetos musicais voltados quase que exclusivamente para esta vertente do techno - como The Orb, com o single "U.F. Orb", e KLF com a música "Chill Out" - entrassem para as listas dos mais vendidos. Associando a música à temática "espacial", à introspecção e à tranquilidade, o estilo ganhou ares de "movimento".
Começaram a surgir selos especializados em "ambient", como o Big Life (falido recentemente), Beyond e Apollo. E alguns músicos e produtores de "techno" dançante passaram a trabalhar quase que exclusivamente com sons eletrônicos mais melódicos, caso do Higher Intelligence Agency, Biosphere e MixMaster Morris.
No início as compilações traziam avisos nas capas como "não é para ser tocado antes das três da manhã", alertando os DJs para que não esvaziassem as pistas. Mas atualmente esse gênero é tão bem aceito que a maioria dos singles de sucessos pop/dance ou "techno" trazem uma faixa "ambient".
Apesar de ser aclamado como novidade, o termo "ambient" foi criado há quase vinte anos por Brian Eno em sua gravadora Muzak Inc., ao lançar o primeiro trabalho pop intencionalmente ambiental, o LP "Music for Airports", em 75. O próprio Eno já havia admitido uma origem ainda mais antiga, tendo inspirado seu trabalho em peças de piano do compositor erudito francês Erik Satie, do século XIX. Autores como Aldous Huxley, que relatou suas experiências com a mescalina em "As Portas da Percepção", é representado nesta geração pelas palestras sobre alucinógenos apresentadas por seu sobrinho Francis, enquanto Terence McKenna, que no seu livro "Alucinações Reais" estuda a influência dos cogumelos alucinógenos nas culturas primitivas, é praticamente o mentor espiritual da banda Shamen.
Longe de matar a diversão de dançar a mais de 140 bpm, o fenômeno "ambient" surge como uma opção relaxante e ocasional dentro da noite.
(Niki Nixon)

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