São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994
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Refúgio Caiman constrói centro de pesquisas

CARLOS KAUFMANN
DO ENVIADO ESPECIAL AO PANTANAL

Criada há seis anos, a ex-pousada e hoje Refúgio Ecológico Caiman, a 36 km de Miranda (MS), é exemplar como empreendimento hoteleiro voltado para o ecoturismo no Pantanal. Numa fazenda de gado com 53 mil hectares, o empresário paulista Roberto Klabin, 35, construiu um complexo de quatro pousadas espalhadas pela propriedade, cercou uma área correspondente a 13% do total para a criação de uma reserva ecológica e pretende dar início à construção, em junho, de um centro de pesquisas.
Na futuras instalações do Centro de Interpretação da Natureza, como vai se chamar, haverá um museu de história natural, auditório, laboratório e alojamento para pesquisadores. "A reserva e o centro de pesquisas são inéditos em termos de propriedade privada", diz Klabin. No futuro, a idéia é criar uma fundação ambientalista a partir desses núcleos, afirma o empresário, que atualmente preside a organização ecológica S.O.S. Mata Atlântica.
A reserva demarcada na fazenda, com 7.00 hectares, foi o resultado de uma pesquisa feita por técnicos da Escola de Agronomia Luiz de Queiroz, da USP de Piracicaba, para determinar uma área que reunisse os principais ecossistemas da região. A propriedade de Klabin é uma espécie de divisa entre o cerrado e o Pantanal, contendo elementos de ambas as paisagens.
"Caiman é uma experiência única na região", diz Beatriz Rondon, presidente da Sociedade de Defesa do Pantanal (Sodepan), que reúne cerca de cem proprietários de terra da bacia do Alto Paraguai –quase 1 milhão de hectares, se somadas as fazendas. A entidade, que dá apoio aos fazendeiros interessados em abrir pousadas nas propriedades, está fazendo um convênio com a ONG Conservation International para criar um plano-piloto com um centro de formação de guias e outras atividades relacionadas ao tema. "Temos que criar outros modelos de turismo para o Pantanal", afirma Beatriz.
A expansão da Caiman, consumada em maio do ano passado, criou três novas pousadas além da original, na sede da fazenda. O número de apartamentos passou de 11 para 29. A ampliação obedeceu a um critério de descentralização e foi inspirada em hotéis africanos. "Apesar de ter uma operação mais custosa, demos a opção de pacotes itinerantes e o mesmo clima de intimidade e conforto da sede", diz Klabin.
Conforto, aliás, pesou na decisão de reformar as pousadas Baiazinha e Cordilheira logo depois de inauguradas para incluir ar-condicionado nos quartos e piscina. "Quando foram criadas, parti do pressuposto que essas novas pousadas seriam mais simples, mas a diferença acabou gerando uma preferência exclusiva pela acomodação na sede. Foi uma exigência dos hóspedes", afirma Klabin.
Os passeios pela região continuam sendo feitos em pequenos grupos –seja na caçamba de caminhões ou de Toyotas, em caminhadas, barcos ou no lombo de cavalos pantaneiros. Nunca falta uma explicação sobre hábitos ou características da fauna abundante que se topa pelo caminho, dada por um guia com formação universitária ou pelo mateiro que também acompanha as saídas.
Se a curiosidade não volta saciada, há mais o que aprender. Depois do jantar, é tempo de interrogar o guia sobre a região e de assistir vídeos e slides a respeito do ecossistema. E descobrir que tudo o que foi observado em alguns dias não esgota a variedade de paisagens e bichos, só motiva uma nova viagem ao Pantanal.
(Carlos Kauffmann)

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