São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994 |
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Cólera é indicador da pobreza
PAULO MOTA
A história política do Ceará sofreu um corte em 1986, quando Tasso Jereissati, um empresário do ramo de refrigerantes, assumiu o governo do Estado após derrotar a chamada "oligarquia dos coronéis cearenses", que controlava o governo havia 21 anos. Jereissati prometia "erradicar a miséria do Ceará", utilizando na administração do governo os métodos de gestão empresarial. Em 1990, o advogado Ciro Gomes, que iniciou sua carreira no PDS, sucedeu Jereissati, comprometendo-se a dar continuidade ao mesmo projeto político. Os números mostram que, durante a gestão dos dois governadores tucanos, a economia cearense cresceu, contrariando a tendência da região Nordeste e do país. De 1987 a 1992, o Produto Interno Bruto (PIB) cearense cresceu 23,71%, contra 4,8% para o Nordeste e 7,8% do Brasil. No mesmo período, a renda per capita do Ceará cresceu 30%, quando a do país caiu em 4%. Estudo feito por uma equipe de professores do Curso de Economia da Universidade Federal do Ceará revela que este crescimento ainda não se refletiu em melhorias concretas nas condições de vida da maioria da população cearense. "O problema é que o 'milagre cearense' obedece à mesma lógica de concentração de renda existente no país", disse Cleide Bernal, uma das autoras do documento. "Esta concentração de renda explica por que 78% da população cearense recebe menos de um salário mínimo", afirma Cleide. Os governos do PSDB também não conseguiram reduzir o analfabetismo no Estado, cuja taxa permaneceu estacionada em 44% nos últimos oito anos. "A estrutura educacional do Ceará está falida, com professores despreparados e mal-remunerados", diz Cleide. A agricultura cearense, que emprega 33% da população economicamente ativa do Estado, é o setor que apresenta o pior desempenho, tendo apresentado uma involução de 44% nos últimos oito anos. Após quatro anos de seca, 90% da safra agrícola de 1993 se perdeu. Sem perspectivas, a população rural do Estado migra para os centros urbanos, que não estão estruturados para recebê-los. De 1985 a 1991, o número de favelas em Fortaleza cresceu de 234 para 313. Segundo da dados do IBGE, um terço da população da capital cearense continua morando em favelas. Em contraste, Fortaleza é a terceira cidade do país em venda de carros importados. Texto Anterior: Ceará cresce, mas miséria persiste Próximo Texto: Incentivos fiscais atraem os investidores Índice |
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