São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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Profissionalismo faz sucesso do vôlei

SERGIO SÁ LEITÃO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Eis uma história edificante. Em 1975, enquanto o planeta se assustava com "Tubarão" nos cinemas e com Vietnã nas telinhas, o vôlei no Brasil era um esporte de abnegados. Sem público, sem dinheiro, sem ídolos, sem títulos, enfim. Passados 19 anos, enquanto dinossauros e a ex-Iugoslávia nos ocupam, aquele patinho feio atingiu o posto de segundo esporte no país dito "do futebol".
Mais. Coube ao vôlei a honra de obter os dois principais títulos do esporte nacional no exterior nos últimos anos –a medalha de ouro na Olimpíada de Barcelona e a Liga Mundial de 93. Foi ele, também, a grande usina dos anos 90 de ídolos saudáveis, bonitos e vencedores, desses que só esporte, muito mais do que a música, tem para oferecer à sociedade. Pense em Giovane, Tande, Maurício...
Os números do vôlei impressionam. Em público, seus torneios superam os campeonatos de futebol de Estados como o Rio de Janeiro, Paraná e Pernambuco. Em dinheiro, os saques, cortadas e bloqueios se assemelham ao balanço de uma grande empresa bem-sucedida –a Confederação Brasileira de Vôlei estima que US$ 50 milhões foram movimentados no país em 93 em torno dos ginásios e das areias.
Deveria a entidade produzir um livro sobre este "case" de sucesso, com ampla divulgação em faculdades de administração e outras confederações esportivas –inclusive a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Pois o vôlei partiu do nada, em meio à década da abertura e do "milagre", e chegou à década da democracia e da recessão como uma empresa de dinheiro, público, ídolos, títulos, emfim, revelando caminhos para o próprio país.
Começo
Esta saga começa em 1975, quando o ex-jogador e advogado Carlos Arthur Nuzman, hoje com 51 anos, assumiu a CBV e seu passado de fracassos internacionais. O segundo capítulo data do início dos anos 80. Nuzman, incentivado pelo empresário Antônio Carlos de Almeida Braga, conseguiu do Conselho Nacional de Desportos, após um 4 a 3 polêmico, a carta de alforria do profissionalismo esportivo.
Foi mais ou menos assim, segundo Nuzman. Pobre, raquítica, sua administração resolveu investir no que ele supunha ser um possível "start" para o vôlei, uma seleção masculina competitiva e uma entidade enxuta. Em 80, os rapazes recrutados por Nuzman, com Bernard à frente. conseguiram um honroso quinto lugar na Olimpíada de Moscou e despertaram alguma atenção –principalmente de empresas.
Patrocínio
Em Moscou, lembra Nuzman, Braga procurou-o. Queria saber o que ele podia fazer para que a seleção melhorasse seu desempenho com vistas à Olimpíada de Los Angeles, em 84. "Pode patrocinar a seleção e um clube", devolveu o dirigente. "Ou melhor, não pode. Porque a legislação proíbe que empresas invistam em esporte". Estava definido o rumo –faltava o "nihil obstat" do CND.
O rumo era a parceria entre o esporte e a iniciativa privada, hoje letra comum no repertório de futebolistas, nadadores e até enxadristas, dos quais o vôlei certamente é credor.
"Percebi que o vôlei deveria ser administrado segundo uma ótica capitalista", explica Nuzman. "Você tinha no Brasil um esporte com bases comunistas, mas sem incentivo do Estado, uma contradição que nos emperrava". Fácil, não?
"Hoje o Brasil é o maior mercado de vôlei no mundo", afirma Ruben Acosta, presidente da Federação Internacional de Volley-ball, a entidade máxima do esporte no planeta.

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