São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 1994
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Telê põe suas histórias no papel

UBIRATAN BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL

O futuro e o passado inquietam o técnico Telê Santana. Aos 62 anos, o treinador do São Paulo vive um momento que não esconde ser divisor em sua carreira. Amigos próximos juram que ele pode realmente deixar o futebol depois da Copa do Mundo, competição que vai acompanhar como comentarista, um novo meio de viver para o futebol. O tão propalado afastamento ganha reforço com a disposição, cada vez mais crescente, de registrar sua história para a eternidade. Telê revelou à Folha que foi sondado pela Companhia Melhoramentos e pela Editora Globo, além de um grande banco, para escrever suas memórias. Apesar de ainda reticente, o treinador estuda com carinho as propostas, que só aceitaria depois do Mundial.
Telê se diz contente em passar as idéias para o papel. Sentiu-se estimulado com o artigo que escreveu para a Folha, publicado em Tendências/Debates, na edição do último dia 30. O tom de seu estilo, segundo ele, seria o mesmo do artigo, em que prega a necessidade de o esporte ser passado a limpo. Preparando-se para retomar o comando técnico do São Paulo na próxima quinta-feira, Telê já exercita seu poder de cidadania, como mostra nesta entrevista à Folha.
*
Folha - O que o senhor achou da atitude de 11 deputados estaduais, que retiraram suas assinaturas no projeto que pede a instalação de uma CPI na Federação Paulista de Futebol?
Telê - Uma vergonha. O nome desses deputados deveria ser publicado sempre, para que ninguém mais votasse neles. Será que eles também têm algo a temer? Afinal, tudo o que a federação, os clubes, a CBF fazem tem que ser de forma transparente. A federação não gasta com estádios, arbitragens, bola e ainda recebe dinheiro das rendas. Como então dizer que isso não é dinheiro público, como fizeram os deputados? Como há manipulações, é preciso ter apuração.
Folha - Não o desanima perceber que é o único que grita contra irregularidades no futebol?
Telê - É realmente desanimador. São atitudes como essa que quase esvaziam a CPI no futebol carioca, que só não morreu graças às denúncias de alguns juízes. O mundo do futebol é, às vezes, muito egoísta. Não me meto em renovações de contrato de jogadores, mas sempre falo a eles para não se preocupar apenas com a parte financeira. É preciso ver o ambiente em que estão. De que adianta ir para outro clube, recebendo mais, se logo se está descontente? O São Paulo pode não ser o clube que paga mais, mas é o que trata melhor.
Folha - O senhor se refere a Toninho Cerezo, que pensou em trocar o São Paulo pelo Atlético Mineiro e uma carreira de deputado?
Telê - Não especificamente, mas não concordo com o que ele queria. Toninho pensava em ser auxiliar-técnico, deputado, mas se esquecia de jogar futebol, que é justamente seu ganha-pão.
Folha - O São Paulo quase perdeu o preparador físico Moraci Sant'Anna. Sem ele, seu trabalho seria muito prejudicado?
Telê - Inicialmente sim, mas porque ele tem toda minha confiança. Posso deixar um treino sob seu comando, que não vou ficar receoso. Mas, nem ele e nem eu somos insubstituíveis. O São Paulo já desenvolveu uma estrutura que pode viver sem nosso trabalho.
Folha - Pode ser verdade, mas, na sua ausência, aconteceram fatos que dificilmente ocorreriam na sua presença...
Telê - É, comigo não teríamos tanta indisciplina. No ano passado, aconteceram duas expulsões durante todo o campeonato. Neste ano, até agora, já foram três. Não quero saber de jogador pensando em dar pancada. O futebol do São Paulo é diferente dos demais, por isso que alguns jogadores, como Axel e Júnior Baiano, demoram para se acostumar.
Folha - Como assim?
Telê - No meu time, jogadores são preparados para ser objetivos, a tocar rápido e para frente. Como alguns não estão acostumados ao futebol de conjunto, preciso de tempo para mudar a mentalidade.
Folha - Na Copa do Mundo, o Brasil vai jogar no início da tarde. Isso é prejudicial?
Telê - Não muito, se o time estiver bem fisicamente. Na Copa do México, jogamos sob o sol de meio-dia. A França quase não suportou chegar até o fim. Por isso que adiei a estréia do Zico. Ele poderia sentir mais o calor.

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