São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 1994
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Mais espaço para falar do nosso esporte

LUIZ NORIEGA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pessoas que viajam com frequência aos Estados Unidos comentam a ausência de maiores detalhes da Copa do Mundo na imprensa local. Nem mesmo a nova tentativa de implantar o "soccer" como atração consegue tirar espaço dos esportes preferidos pelos norte-americanos. Eles continuam destacando as coisas deles.
Aqui vivemos papel inverso. Abrimos os jornais e temos com fartura futebol americano, basquete da NBA, boxe das muitas entidades, cada qual com seu campeão e sempre provocando a "luta do século". A quebra da invencibilidade do mexicano Chavez teve muito destaque. Até o Kazu, simpático japonesinho que veio ganhar jogo de cintura por aqui, virou notícia muito importante.
Ligamos a TV e temos em abundância, e com muitos entendidos, futebol alemão, italiano, argentino, espanhol, japonês etc. Sem contar o inglês, o dinamrquês, o sueco e o holandês nas emissoras por assinatura.
As mesas redondas não conseguem fugir do futebol. Entra Cafu, passa Edmundo, surge Luxemburgo. Telê mete a bronca nos cartolas, nas arbitragens, no calendário. Brunoro defende a multinacional que levantou o Palmeiras e que deu realmente uma injeção de ânimo no futebol. Os analistas escalam, mudam esquemas, dão lições de regras. Tudo é futebol. Profissional. Com gente dos clubes grandes quase sempre.
É justo que se procure atrações que mexam com a galera. Polemizar sempre dá audiência. Mas, que tal um pouco mais de atenção aos esportes amadores, às atividades da juventude principalmente? Por que divulgar em meia página o nascimento do filho do Boris Becker e esquecer por completo um certame de tênis infanto-juvenil com mais de 500 inscrições de todas as regiões brasileiras? Por que não reduzir mordomias, aviões fretados, badalação total e sempre com as mesmas figurinhas nas promoções de Comandatuba, Itaparica, Guarujá e fazer um torneio paralelo com jovens em ascensão?
O basquete profissional norte-americano é um belo espetáculo. Mas não estamos exagerando na divulgação, nos detalhes, em detrimento dos certames locais? No feminino, será que só temos Paula e Hortência? Janete, Nádia, Branca, Vânias, Marta e muitas garotas que estão se projetando também não fazem o show?
Não seria mais útil e interessante esquecer um pouco as preferências sexuais de Martina, os chiliques de McEnroe, os torneios africanos, asiáticos ou europeus e dar mais informações sobre estaduais, nacionais, campeonatos abertos, clínicas? O tênis paulista, por exmplo, tem mais de 30 mil jogadores cadastrados, 250 clubes filiados, 80 mil jogos por ano. Um número extraordinário de jovens que precisam de apoio e incentivo e que somente através deles é que poderão evoluir, virar ídolos. Por que destacar somente Mattar, Oncins, Motta ou Meligeni? Ou então tabalhar em cima das crises?
A mesma reivindicação fazem as pessoas ligadas ao basquete, hipismo, bocha, ginástica, handebol. Fora do futebol, do autombilismo e do vôlei (modalidade viva e muito bem dirigida), os demais esportes vivem de chapéu na mão implorando espaço, pedindo ajuda oficial. O tênis está há 30 anos engolindo promessas de políticos aguardando cessão de terrenos para quadras populares.
Que tal se abríssemos alguns minutos nas mesas redondas para o futebol menor, seus técnicos, dirigentes. Para outras modalidades também. Não seria mais sensato transmitir jogos do juvenil, de acesso, reativar um Dente de Leite e esquecer um pouco o produto importado? Ou será que estamos aprendendo com os japoneses?

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