São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 1994
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Exposição conta a história do Carnaval

CARLOS UCHÔA FAGUNDES JR
ESPECIAL PARA A FOLHA

"A Iconografia e a Arte do Carnaval - séc. 19 e 20" é a exposição que a Pinacoteca do Estado apresenta a partir de hoje contando a história do Carnaval. Com referências culturais para um país sem memória, a mostra é didática sem ser chata, pernóstica. Junta com emoção documentos que vão desde os carnavais cariocas de 1868, registrados em caricaturas saborosas feitas pelos mestres Angelo Agostini e Luis de Borgomaniero. Nelas se vêem reproduzidos desfiles de alegorias que lembram muito enredos recentes da Marquês de Sapucaí, mostrando que a fantasia e o samba dão voltas no tempo.
Três grandes fases do Carnaval se resumem em alguns objetos curiosos. A primeira, do séc. 19 à década de 1930, na mostra em delicados limões de cera, originalmente cheios de perfume, e que os foliões atiravam uns nos outros: era o entrudo. As perfumeiras de metal, espécies de pequenas bisnagas, foram suas sucessoras, na virada do século. Depois vieram os lança-perfumes, representados por exemplares da década de 20 (os "Pierrots") e 40, que correm o risco de serem tomadas de assalto por alguns fãs remanescentes. Uma gravura de Debret, feita em 1820, registra um momento bem mais antigo: o folião aperta uma seringa enorme, versão jurássica das nossas bisnagas.
Em 1888, personagens sisudos como o parnasiano Olavo Bilac, sócios do político Clube dos Democratas, recebiam o jornaleco Carnavalesco "Recuerdo", com texto daquele poeta enaltecendo as estrepolias de Momo. Francamente discordante, Eduardo Nunes Pires assina uma poesia de 1874 que é a primeira malhação do Carnaval. Com ele faz coro, indignado com os gastos inúteis, o jornal do Exército da Salvação, "O Brado de Guerra" (déc. 1930), cujo nome, ironicamene, é pura folia.
Curioso é o famoso Cordão do Bola Preta, do Rio, que em 1926 faz publicar seu ato de fundação no Diário Oficial. Seu jornalzinho, o circunspecto de "O Rabo", era redigido, em 1938, pelo ator Mário Lago, então em fraldas. Não ficando atrás, São Paulo tinha seu Bloco Tenentes do Diabo, capitaneado no mesmo 1938 pelos bravos Lord Bulldog, Lord Metralha e Lord Bollinha, que aparecem em fotos impagáveis.
Cordões e blocos representavam o Carnaval popular, a léguas de distância dos aristocráticos bailes no Municipal do Rio ou do Corso na avenida Paulista, em São Paulo. Misturando ricos e pobres, a exposição traz miríades de fotos, caricaturas e desenhos de fantasias, que vão de Viriato do Salgueiro ao costureiro Brunelleschi, de Paris, com sua coleção para o Carnaval grã-fino de 1925.
Nessas idas e vindas, entre músicas, filmes e livros, a mostra também traz as "viagens" dos grandes artistas brasileiros sobre o tema. Entre elas, fantasias em papel feitas por Hélio Oiticica, o "Diorema" de Nobauer; "Carnaval" (déc. 50) do Penhaschi, Zaluar registra os populares "Clovis", da zona de Mangaratiba, no Rio. Segall vem com o baile modernista do Spam (1933). Utopias à parte, popular e erudito entrecruzam fronteiras e alimentam a novidade.
Exposição: "Iconografia e Arte do Carnaval - Séc. 19 e 20"
Onde: Pinacoteca do Estado (av. Tiradentes, 141, centro, tel. 011-228-1148)
Quando: Abertura hoje, 15h. De terça a domingo das 13h às 18h. No carnaval fechado de domingo a quarta. Entrada Franca.

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