São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 1994
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Mangueira ameaça não sair em 95

SÉRGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Vice-presidente e representante da ala jovem da Mangueira, o compositor Ivo Meireles, 31, lançou ontem a proposta de a escola não desfilar no próximo Carnaval, em protesto contra a 11ª colocação obtida este ano. Neuma Gonçalves da Silva, 71, discorda da idéia. "Ele é moleque ainda, uma criança. Tem que crescer e aprender", disse dona Neuma a respeito de Meireles.
Para a diretoria da Mangueira, sabotaram o desfile da escola. Meireles disse que na concentração foram furados os pneus de oito carros alegóricos. "Só não conseguimos consertar o que o Gil ia desfilar", afirmou.
O boicote ao desfile ainda será debatido pela direção. A sede da escola, na parte baixa do morro da Mangueira (zona norte), fechou ontem em protesto contra a "sacanagem dos jurados", expressão cunhada por dona Neuma, fundadora da ala das baianas da escola, onde desfila desde 1929.
A derrota no desfile acirrou uma briga interna que a Mangueira mantinha em sigilo. De um lado, a direção, empenhada em montar uma estratégia de marketing em torno da escola. Do outro, tradicionais figuras mangueirenses –como as donas Neuma e Zica, viúva de Cartola, e o compositor Carlos Cachaça– avessas à penetração de gente de fora da comunidade.
Os grupos rivais concordam em um ponto: seus representantes garantem que a escola foi roubada. "Se a intenção era prejudicar a Mangueira, vão acabar prejudicando o Carnaval carioca. Minha proposta é a escola não sair em 95", disse Meireles à Folha.
"O júri é incompetente. Eles não julgam a Mangueira. Eles julgam o nome. Agora, fugir da raia não adianta. Se eles quiserem outro protesto eu topo. Não desfilar é besteira", disse dona Neuma.
Lucros
Segundo a rede hoteleira do Rio, o faturamento somente com as diárias, durante os quatro dias de Carnaval, foi de US$ 4,8 milhões, o que significa um incremento de 15% a 20% em relação ao ano passado. Estes números indicam a recuperação da atividade turística na cidade, segundo o presidente da Associação da Indústria de Hotéis, Alfredo Lopes.
Lopes disse que 700 mil turistas passaram o Carnaval no Rio este ano e deixaram o equivalente a US$ 30 milhões, entre diárias, refeições, passeios, ingressos para o desfile das escolas e compras.

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