São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 1994
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URV altera prazos e preços

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

A indefinição das regras da Unidade Real de Valor (URV) mexeu nos prazos e preços praticados na negociação entre o varejo e as indústrias. Com a expectativa de que o novo indexador passe a vigorar a partir de 1º de março, os fabricantes encurtaram os prazos de pagamento de 30 para de 15 dias, informa o economista Marcel Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo. O motivo, segundo ele, é que o mercado estaria sem parâmetros para estimar a expectativa de correção monetária a partir do momento em que o novo indexador entrasse em vigor.
"Não existem mais negócios com taxas de juros pré-fixadas com os grandes fornecedores", afirma Carlos Vian, diretor da loja de roupas femininas Luigi Bertolli. Desde o começo do mês, as vendas entre o comércio e a indústria só ocorrem com taxas de juros pós-fixadas. Em sua opinião, essa prática é favorável para compradores e vendedores porque protege ambos das perdas provocadas pela inflação.
Além da mudança nos prazos, outro efeito da URV já é sentido no preço efetivamente pago. "Os descontos são generalizados", diz Wilson Tanaka, presidente do Sincovaga, sindicato que reúne 35 mil estabelecimentos comerciais de pequeno porte que vendem gêneros alimentícios no Estado de São Paulo.
Firmino Batista Rodrigues, vice-presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados) confirma os descontos. Eles estariam oscilando entre 5% e 40% sobre as tabelas de fevereiro e, em alguns casos, sendo dados em produto com nota fiscal a parte. Cerca de 60% dos fornecedores, que no caso dos supermercados somam quase mil, adotaram essa estratégia, diz Rodrigues.
Os descontos não bateram apenas no setor supermercadista. Arab Chafic Zakka, dono da Preçolândia, com duas lojas em São Paulo, que revendem cerca de 7 mil itens entre brinquedos, artigos de papelaria, eletrodomésticos e eletroportáteis, informa que os abatimentos da indústria para o comércio chegam até 60%. Para os artigos de inox, alumínio e plástico, que reajustaram os preços 15% acima do Índice Geral de Preços de Mercado da Fundação Getúlio Vargas nos três últimos meses, o desconto médio sobre o preço de tabela é de 50%, diz.
Para Solimeo, o mecanismo de reajustar preço e depois negociar um abatimento é uma tática usada no período que precede mudanças na economia. "É uma atitude defensiva diante das incertezas das novas regras", diz ele.
Já o presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FCESP), Abram Szajman, diz não ter detectado ainda mudanças de prazo de pagamento, muito menos a prática generalizada dos descontos nas negociações entre a indústria e o comércio. Segundo ele, a alta de 13,12% Índice de Preços no Varejo (IPV) apurado pela FCESP durante a segunda semana de fevereiro trata-se, em parte, do rescaldo dos aumentos das listas de janeiro. O índice, em sua avaliação, também teria sido puxado para cima pela expectativas em torno da aprovação do Fundo Social de Emergência, a perspectiva de aumento da alíquota do Imposto de Renda para empresas e a revisão constitucional.

Colaborou Fátima Fernandes

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