São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 1994
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Exposição reúne 58 aquarelas de Debret

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Título: Debret - Aquarelas do Brasil
Artista: Jean Baptiste Debret (1768-1848)
Onde: Casa das Rosas (av. Paulista, 37, tel. 011/251-5271, Paraíso, zona sul de São Paulo)
Quando: abertura terça, às 20h; até 20 de março
Visitação: de terça a domingo, das 12h às 18h
Quanto: entrada franca

Não se sabe se a Missão Francesa foi convidada ou não, mas sua passagem pelo Brasil deixou "souvenirs" de inegável bom gosto. Entre eles, estão as aquarelas de Jean Baptiste Debret (1768-1848), que a partir de terça-feira vão poder ser vistas, em rara oportunidade, na Casa das Rosas. Os 58 trabalhos pertencem à Fundação Castro Maya, do Rio de Janeiro.
A Missão Francesa foi um grupo de artistas e artesãos que desembarcou na Baía de Guanabara em 1816. Para alguns historiadores, a convite de D. João 6º; para outros, em busca de refúgio político. Inicialmente chefiada por Joaquim Lebreton, que fora demitido do Instituto de França por questões políticas quando Luis 18 subiu ao trono, a Missão trouxe entre outros o grande pintor Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830), cujas paisagens a óleo podem ser vistas no Museu Nacional de Belas Artes, também no Rio.
Debret não era pintor à altura de Taunay, e ficou mais conhecido em seu país pelo livro "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", publicado em Paris em três tomos em 1834, 35 e 39. Neste último tomo, havia reproduções de estampas e aquarelas em que Debret retratava personagens e ofícios da sociedade brasileira. Aqui seu talento se manifesta na melhor forma; como aquarelista, usava uma vivacidade e charme inencontráveis em suas telas a óleo.
O charme se deve ao colorido, à harmonia que Debret busca entre amarelo, azul e vermelho, especialmente nas roupas dos retratados. A vivacidade vem das cores e também do enquadramento; Debret recortava seu espaço visual com grande senso de humor e informação. O que surpreende é o domínio da técnica da aquarela sobre papel –munição e alvo que são difíceis de manipular. E o pitoresco de algumas cenas. Em "Oficial da Corte Indo ao Palácio" (1825), por exemplo, em que uma escrava segue seu senhor, ela carregando um mastro e ele um guarda-chuva, o paralelismo dos elementos e a expressão dos rostos dão saborosa ironia ao quadro.
Debret foi o responsável pela primeira exposição de arte realizada no Brasil, na Imperial Academia, em dezembro de 1829, para a qual organizou e custeou um catálogo, e pela segunda, no ano seguinte. Com essas atividades e com sua própria arte, a Missão Francesa teve tremendo impacto na rudimentar cultura brasileira. Não são poucos os historiadores que atribuem a ele o início do "penchant" pela cultura francesa por parte dos intelectuais brasileiros em todo o século 19 e na primeira metade do 20.
Debret ficou aqui 15 anos. Pintou retratos da família real, quadros históricos e fez diversos estudos e esboços. Desse trabalho, Raymundo Ottoni de Castro Maya, em 1939 e 40, em Paris, comprou da sobrinha-neta do artista mais de 500 exemplares. Em 1994 se comemora o centenário de Castro Maya. Sua fundação mantém dois museus, onde as obras de Debret estão conservadas: a Chácara do Céu, em Santa Teresa, e o Museu do Açude, no Alto da Boa Vista. Assim, são trabalhos difíceis de ver em São Paulo.
Organizada por Carlos Perrone, da Secretaria de Estado da Cultura, a exposição na Casa das Rosas é acompanhada por músicas e objetos do século 19, como caixas de boticário, latões de leite e outros que aparecem nas aquarelas de Debret. É dividida em seis núcleos, que mostram os tipos, os ofícios, os escravos, o comércio, as ruas e o transporte no Rio da época. Na somatória final, dá a idéia de que, tivesse Duguay-Trouin vencido em sua invasão de 1711, o Brasil seria melhor e todos parlaríamos a língua de Flaubert.

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