São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 1994
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Família Fasano acerta de novo e cria o Gero

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao abrir o novo Gero do outro lado da rua, o Fasano repete a dose dos grandes restaurantes franceses que têm aberto filiais mais simples e baratas. Mas com certas vantagens em relação a similares europeus. Enquanto na França (e agora em outros países, como os Estados Unidos) é a crise econômica –e a queda na clientela– que leva Jacques Cagna, Guy Savoy ou Michel Rosgang a criar seus bistrôs, não é esta a raiz do Gero, já que o Fasano anda saudavelmente lotado.
Outra vantagem do Gero é que, enquanto na Europa os novos bistrôs têm cardápios totalmente diferentes do das matrizes –e portanto cozinhas e cozinheiros diferentes–, no caso brasileiro o centro do cardápio –as massas e seus molhos– são inteiramente preparados no Fasano, sob os cuidados do chef Luciano Boseggia.
Mais uma vez a família Fasano (talvez neste caso movida particularmente pelo entusiasmo do filho Rogerio –o Gero) mostrou competência na montagem de um restaurante. Muito diferente do Fasano na arquitetura (o galpão de tijolo aparente com clarabóia e mobiliário despojado) e no ambiente (quase uma cantina, com turmas grandes em conversas ruidosas), o Gero, que tem como sócio o construtor Fabio Tranchesi, imediatamente atraiu um público frenético que já lota a casa. Apesar disso –e do incômodo da espera nas horas de pico– o serviço flui com eficiência, com garçons malabaristas equilibrando nas bandejas enormes pratos fundos de massa sem deixar a peteca cair.
No cardápio, as massas frescas mesclam fórmulas tradicionais com outras mais inovadoras. Elas vão dos fotogênicos raviolis negros de robalo com molho de açafrão e pimenta-rosa (o casamento da pimenta com o peixe é sempre harmonioso), aos fettuccine com rúcula e vieira. A massa seca varia dos simples spaghettini com alho, óleo e pimenta-calabresa, aos vigorosos farfalle com molho de ossobuco e funghi secchi.
Há três sugestões de carne ou ave, da tagliata de filé com rúcula, queijo e vinagre balsâmico ao saboroso coelho assado com gnocchi. Seja qual for o prato principal, vale a pena passar por entradas como a mozzarella in carrozza (empanada, com recheio de alice) e os arancini (bolinho de arroz à milanesa com recheio de carne).
Na correria das primeiras semanas, onde o movimento surpreendeu, houve falhas da cozinha do Gero (massa fora do ponto) e outras nos molhos (como um molho do coelho salgadíssimo). Mas a fórmula do restaurante é definitivamente inteligente e a superação dos erros já desponta no horizonte.

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