São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 1994
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Ad majorem gloriam vitae

É com um misto de satisfação e profunda preocupação que se recebe o lançamento da Campanha da Fraternidade de 1994. Por um lado, é bom saber que a Igreja Católica considera o combate à miséria uma de suas prioridades e deverá colocar sua imensa máquina e grande prestígio para tentar melhorar a situação de penúria de milhões de brasileiros. De outro, a decisão de imprimir livretos condenando o uso de preservativos é absolutamente inoportuna, para dizer o menos.
Tal iniciativa adquire contornos ainda mais sombrios com a declaração de d. Antônio Celso de Queiroz, secretário-geral da CNBB, de que as campanhas de combate à Aids sendo feitas pelo governo não devem ser levadas a sério.
De fato, a posição da Igreja Católica neste campo parece bastante eqivocada. É claro que os católicos têm todo o direito de recomendar a seus fiéis que obedeçam às orientações de Roma e previnam a Aids através da fidelidade conjugal ou da abstinência sexual.
A experiência, contudo, ensina que a maioria da população adolescente e adulta não deixa de praticar sexo apenas por uma recomendação do padre, do bispo ou mesmo do papa. E fazer sexo sem camisa-de-vênus hoje é um verdadeiro jogo de roleta-russa, que pode resultar numa morte horrível. Ignorar isso é ignorar a realidade.
De resto, a igreja centra fogo e canaliza recursos para neutralizar justamente uma das poucas iniciativas felizes do governo –a campanha contra a Aids-, criando confusão no público em face de duas orientações contrapostas.
O que causa estranheza é que, quando uma orientação que se perde sob a poeira dos tempos entra em choque com a preservação da vida, Roma parece, infelizmente, optar de maneira cega pela tradição, contra a vida.

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