São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 1994
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Fernando Henrique pode sair?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Mais uma de Itamar: às vésperas de mais uma rodada decisiva de negociações do plano econômico no Congresso, estimulou a candidatura Fernando Henrique Cardoso. É uma espécie de versão econômica do episódio da calcinha. Volta à cena uma questão: eticamente, o ministro pode ser candidato a presidente? Ou seja, até que ponto sua candidatura não seria um gesto mesquinho de esperteza?
Não é uma discussão fácil e, diga-se, está na cabeça de Fernando Henrique. O fato é o seguinte: ele está mobilizando o Congresso e nação a favor do plano, usando como argumento a responsabilidade e o espírito público. Está correto. E por isso, e só por isso, recebeu apoio da opinião pública, instrumento de pressão dos parlamentares.
O ministro tem razão quando aponta a mediocridade de amplos setores da elite política. Também tem razão ao afirmar que setores da elite econômica é "sócia da crise". E, finalmente, acerta quando aponta os deserdados –as pessoas que não têm conta em banco- como as maiores vítimas da inflação.
Vive-se, agora, uma fase delicada de administração do plano, aprovada a primeira etapa com a aprovação do Fundo Social de Emergência. Até que ponto a saída do ministro prejudicaria a estabilização da economia? Se não afetar, sua despedida não seria traumática. E, aí, tudo bem.
E se afetar, o que, diga-se, é muito possível? Ele seria, então, alvo de sua própria crítica à elite econômica e política: falta de desprendimento e espírito público. Diria mais: falta de responsabilidade com aqueles que, por exemplo, não têm conta em banco.
Fernando Henrique Cardoso obteve ganhou dimensão nacional e popular por causa do caos de uma inflação indecente. Motivo: ao fincar-se no Ministério da Fazenda, ganhou visibilidade. Exposto à exaustão nas telas, jornais, emissoras de rádio, subiu nas pesquisas de opinião, inflando sua candidatura.
Sair do ministério e arriscar o combate à inflação fará do ministro mais um beneficiário da crise.

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