São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 1994
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A estrela sobe... no muro

A Executiva do Partido dos Trabalhadores se reuniu, uma vez mais, para decidir sobre a participação do partido na revisão constitucional. Uma vez mais, decidiu nada decidir. Há mesmo confusão sobre como interpretar a não-decisão. E pior, o próprio presidente do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, acabou não votando na questão, permitindo o estranho empate.
E não é só. Por pressão do mesmo Lula, essa mesma Executiva decidiu retirar a menção à moratória da dívida externa do projeto de proposta de governo do PT. Substituiu-se-a por "suspensão de pagamentos", o que vem a dar na mesma, ou seja, nada se decidiu.
Para além de manobras e traquinagens típicas da política, essa sutil dialética que transforma as decisões em indecisões está-se consolidando como o novo estilo do PT. De qualquer forma, o novo estilo petista é o resultado direto da profunda divisão interna do partido. De um lado, encontram-se os peticegos defensores de um mundo pré-cambriano no qual palavras e expressões como "o petróleo é nosso", "revolução proletária", "trotskismo" e "moratória" ainda fazem sentido e permanecem atuais. Do outro lado, está um setor que foi duramente aprendendo a encarar o mundo e a política dentro de um realismo ainda primitivo, mas que pode evoluir para uma forma relativamente moderna de fazer política.
Lula, acreditava-se, pertencia a esse segundo grupo. Entretanto, sua "fuga" da reunião da Executiva anteontem sugere que o líder petista não se quer indispor com nenhuma ala, preferindo ficar ao lado da que acabar triunfando.
Parece que Lula calcula mal sua importância e força para decidir os rumos do partido. Afinal, se é verdade que o líder depende do partido para eventualmente vencer as eleições, é ainda mais verdadeiro o fato de que, sem Lula, o PT não passa de um partido sem figuras de expressão nacional. Exemplo disso é a dificuldade do PT, a agremiação que tem o maior número de intenções de voto para a Presidência, de conseguir candidatos fortes para concorrer aos governos estaduais.
Caso Lula acabe vencendo as eleições presidenciais e o novo estilo petista permanecer, já se entrevê como poderão ser as manchetes dos jornais sob o governo petista: Executiva proíbe parlamentares do PT de votar Plano Mercadante.

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