São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Mulheres fatais optam pela ausência da calcinha

SERGIO SÁ LEITÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sharon Stone ("Instinto Selvagem"), Marilyn Monroe ("O Pecado Mora ao Lado") e Debora Shelton ("Dublê de Corpo") igual a Lílian Ramos ou Claúdia Liz. Na ficção e na vida real, as mulheres fatais apresentam ao respeitável público uma arma de sedução infalível –a ausência da calcinha, este fetiche de 101 anos.
Não se trata, porém, de um recurso para qualquer pessoa, hora ou lugar. A modelo Luana Piovani, 17, em cartaz nos cinemas com o comercial do chocolate aerado da Lacta, admite não usar calcinha "como brincadeira". "Tudo depende do contexto", explica. "Se você conhece o cara e está num jantar, então pode brincar com isso para seduzir."
Cláudia Ferrabraz, 26, modelo de passarela, recomenda precauções para quem usa esta arma. "Você não pode ficar sem calcinha em qualquer situação", ensina. "A roupa tem que dar a desculpa e em nenhuma hipótese os fotógrafos podem chegar perto". Ramos não tomou este cuidado em seu recente encontro presidencial no Sambódromo, no Rio.
Outra Cláudia, a Liz, 24, também modelo, diz que não há problema algum em vestir a roupa sobre a pele, sem intermediários. "Não tem homem que odeia usar cueca?", pergunta, sorrindo. "Isso é muito mais comum do que se pensa e diz respeito apenas à intimidade de cada um", defende. "Você apenas tem que saber quando usar e quando dispensar." Pesquisa Datafolha revela que Cláudia está enganada, apenas 2% das 539 mulheres ouvidas na semana passada afirmam já ter saído de casa sem calcinha.
A modelo Érica Rocha, 18, que apareceu ao lado do presidente em Juiz de Fora, no Carnaval, desfaz o coro e critica quem não usa calcinha. "Isso não se justifica", ataca. "Mesmo quando você está com um vestido justo, deve usar calcinha". Recém-classificada para uma faculdade de direito, ela assegura que jamais descumpriu sua "lei".
Para o compositor Fausto Fawcet, autor de uma elegia à calcinha, Rocha está deixando de lado um catalisador erótico tão eficiente quanto o próprio fetiche-mor. "Além de poderosa arma para cavar espaço na imprensa", diz, lembrando o encontro de Itamar Franco com Lílian Ramos, "a falta de calcinha pode ser um fator de excitação".
Fawcet fantasia uma loura com vestido primaveril. "É legal saber que ela está nua por baixo da roupa", explica. Ferrabraz recomenda a arma "se você pretende fazer um clima de 'Nove e Meia Semanas de Amor' e 'Instinto Selvagem', a dois". "Isso certamente excita muito a imaginação dos homens", concorda Piovani. "Eles adoram", conta Liz.
Os modelitos apertados funcionam como pretexto para a falta da calcinha. "Não fica muito confortável, mas é feio usar calcinha com roupa colada ou transparente", afirma Piovani. A saída, segundo ela, é botar meia-calça preta –outro fetiche masculino, aliás. Para dormir, porém, não há problemas. "Tenho amigas que deitam sem", conta.
O desfile das escolas de samba, para elas, não está entre os "momentos" em que a calcinha pode ser dispensada sem que a mulher perca a classe. "Essa história da Lílian foi uma baixaria", diz Ferrabraz. "Não é legal ficar só de camiseta e sem calcinha num lugar público". Liz, Piovani e Rocha usam a mesma palavra ("baixaria"). "No Sambódromo não dá", conclui Liz.

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