São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Ex-roteirista faz melhor por novela na frente das câmeras

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

Patrícia Travassos, 41, pulou para a frente das câmeras para viver Duda em "Olho no Olho". Conseguiu dar à novela o tom de comédia que ela deveria ter tido desde o início: seus duelos com Valquíria (Maria Zilda) pelo amor de Bruno (Mário Gomes) são o melhor da faixa das 19h.
Até então, como redatora-auxiliar do autor Antônio Calmon, a veterana de alguns dos melhores projetos globais dos últimos anos vinha fazendo o que podia por "Olho no Olho". Como podia pouco, tomou uma decisão: não quer mais escrever novelas. "Minisséries ou especiais que permitem trabalhos mais autorais são a minha praia. Novela é muito comercial", define.
No início, sua praia mesmo era a de Ipanema (zona sul do Rio), onde nasceu e cresceu. Filha de um engenheiro e de uma agente de turismo, Patrícia se habituou a trabalhar em grupo: em casa, tinha a companhia de seis irmãs.
No fim da adolescência, de tanto matutar entre ser geóloga, astrônoma ou cientista social, acabou pregando estrelinhas em camisetas numa fábrica de Nova York. Na volta, conheceu um pessoal que ia dar o que falar: Regina Casé, Luis Fernando Guimarães, Evandro Mesquita, Perfeito Fortuna, Nina de Pádua e Hamilton Vaz Pereira.
Descobriu no grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone a sua "turma". Juntos, viajaram o Brasil sete anos, com duas peças e centenas de idéias. TV para eles era uma concessão impensável, um veículo "careta".
No Asdrúbal, Patrícia foi apresentada também ao vírus responsável pelo fim das melhores parcerias: o ego inflado. Quando a trupe se dispersou, ela ficou junto do namorado Evandro, que já partia para uma empreitada que daria samba, ou melhor, rock: a Blitz.
Sem jeito para posar de namoradinha de roqueiro, Patrícia mostrou novamente seu valor fazendo as dos sucessos "Bete Frígida", "Weekend", "Sou Free" e "Esse Seu Jeito Sexy de Ser" –as duas últimas popularizadas pelo extinto Sempre Livre. Dirigia ainda os shows dos dois grupos.
"No meio da Blitz começaram as brigas e ao mesmo tempo que o conjunto fazia água, meu romance com o Evandro também naufragava", lembra. O conjunto e o namoro acabaram e Patrícia foi parar na Globo, para desenvolver o trabalho que até hoje está na pole-position de seu coração: o seriado "Armação Ilimitada".
"Foi a coisa que mais gostei de escrever. Ainda não vibrei tanto com um trabalho como aquele", diz.
O período que passou como redatora do "TV Pirata" não chegou a empolgar da mesma forma, apesar de muitas idéias suas terem vingado –como o "casal Telejornal", em que uma dupla de apresentadores ancorava um noticiário da cozinha de sua casa.
"A TV é difícil. O que vai para o ar é muito diferente do que você escreve", diz. Os períodos como redatora de "Delegacia de Mulheres" e "Sex Appeal" só reforçaram a tese.
Como atriz, teve mais chance de fazer a coisa certa. Atuou em "Brega e Chique", "Bebê a Bordo" e "Vamp", cujo sucesso lhe rendeu convite até para atravessar a Marquês de Sapucaí sobre um carro de sete metros de altura do Salgueiro. "Estava com tanto medo de despencar que nem sambei". Ah! fez também a "horrorosa" vilã Francisca, em "Amazônia", da Manchete. "Ninguém viu. Ainda bem".
Como Duda, Patrícia enfrentou pela primeira vez o desafio de atuar sem uma indumentária característica. Também ficou insegura por estar entrando no meio da novela, embora viesse escrevendo o texto desde o início "e soubesse o que estava faltando".
Excesso de zelo. O resultado foi tão bom que o galã Bruno vai deixar Valquíria de lado e voltar a se derreter pela ex-mulher. As cenas tórridas de reconciliação vão ao ar já esta semana.

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