São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 1994
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Intelectuais abrem fogo contra cúpula do PT

FERNANDO DE BARROS E SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

A nata da intelectualidade petista resolveu investir contra a radicalização à esquerda do PT e abrir fogo contra as resoluções que vêm sendo tomadas pela direção do partido. Através de um manifesto intitulado "PT Amplo Urgente - Lula Presidente", que será lançado na PUC de São Paulo, em ato público às 15h do dia 5 de março, os intelectuais descontentes com os atuais rumos do PT pretendem retirar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência do isolamento que, segundo eles, pode levá-la ao naufrágio.
No documento em que convocam os petistas, os intelectuais falam em "divórcio" entre os grupos que controlam o partido, por um lado, e suas bases e representantes eleitos, por outro, e alertam para "consequências dramáticas" que isso pode ter na medida em que se aproximam as eleições. Assinam o documento, entre outros, Francisco de Oliveira, presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Paulo Freire, educador, Francisco Weffort, cientista político e professor da USP, Paul Singer, economista e ex-secretário do Planejamento na gestão Luiza Erundina, Ermínia Maricato, professora da USP e ex-secretária da Habitação de Erundina e Luis Carlos de Menezes, físico e professor da USP.
Até ontem 71 pessoas endossavam o documento. Entre elas, líderes da área sindical ligada ao PT como Vicente Paulo da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Kjeld Aagaard Jakobsen, tesoureiro da CUT nacional, e Ricardo Berzoini, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Os idealizadores do movimento resolveram vetar que parlamentares e membros que ocupam cargos na burocracia do PT assinem o manifesto para sinalizar que a iniciativa não está vinculada a nenhuma tendência interna do partido.
O principal ponto da pauta do manifesto é a discussão de uma política de alianças que viabilize tanto a candidatura de Lula como um eventual governo petista. "Precisamos ter em mente que o candidato Lula é maior que o PT e o PT é maior que sua direção", diz Luis Carlos de Menezes.
Embora o manifesto não seja explícito a esse respeito, a decisão da Executiva petista de vetar que os parlamentares do partido participem da revisão constitucional será duramente criticada no ato do dia 5. Para os signatários do manifesto, essa decisão exemplifica a cultura aparelhista que domina hoje a direção do partido.
"Ninguém quer participar de um partido jurássico", diz o economista e presidente do Cebrap Francisco de Oliveira. "Hoje a direção do PT não acompanha mais setores importantes do movimento sindical, como o do Vicentinho, que estão se tornando mais modernos que o partido", afirma.
Os intelectuais pretendem aproveitar o movimento para discutir como a atual cúpula petista reedita uma concepção aparelhista de partido, de herança comunista, sem no entanto estar atenta para as questões estruturais e a visão global dos problemas do país, o que seria o lado "positivo" dos velhos partidos de esquerda que deveria ser preservado pelo PT.

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