São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 1994
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Apressado come cru

EMERSON KAPAZ

Não dá para saltar a necessária etapa de utilização da URV como indexador-moeda antes da adoção da nova moeda propriamente dita. Esta transição é coerente com a tese através da qual o ministro Fernando Henrique Cardoso granjeou credibilidade para o seu plano.
Segundo Fernando Henrique, a chave do êxito do programa está em compreendermos que este não é mais um plano, mas sim um processo de estabilização. E todo processo tem seu próprio tempo de maturação.
Eliminar essa etapa de transição, como sugere o ex-ministro Simonsen, implica o risco de o governo ser compelido a arbitrar as perdas, o que já fez em planos anteriores, com os catastróficos resultados conhecidos. Tal risco aumenta quando essa arbitragem ocorreria em um ambiente de 40% de inflação, no qual a velocidade dos aumentos de preços dificultará qualquer tentativa de repartição equânime das perdas.
A vantagem da etapa de transição consiste em se delegar aos diversos setores a negociação do ajuste dentro das cadeias produtivas e entre os segmentos econômicos. Nesse sentido, aprovado o Fundo Social de Emergência, o governo deveria agilizar os mecanismos de punição a eventuais abusos de poder econômico.
Tais mecanismos são fundamentais para que os setores competitivos e o próprio governo se sintam fortalecidos quando negociarem a implementação da URV com os monopólios e cartéis.
Nesse processo, os salários são o calcanhar-de-aquiles da implementação da URV. Se o ajuste levar os salários para baixo, o resultado será mais recessão e a falta de apoio dos trabalhadores ao plano. Por esses motivos, o PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) defende que, diferentemente dos planos anteriores, é a vez de os trabalhadores saírem beneficiados. Será necessário apenas cuidar para que esse benefício seja proporcional à capacidade de produção.
Enfim, a transição é necessária, não devendo passar do prazo de 120 dias, sob risco de o ajuste ficar contaminado pela disputa eleitoral. Esperamos que o governo, que tão bem soube utilizar sua energia de negociação para aprovar o plano no Congresso, agora abra o espaço de negociação para a sociedade. É preciso negociar a adoção da URV principalmente nos setores competitivos da economia, que concentram as pequenas e médias empresas do país.

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