São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994
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A primeira vez

CARLOS SARLI

Finalmente o dia amanheceu. As pouco mais de quatro horas de sono –mal dormidas– chegavam ao fim. Só fui para cama às duas da manhã depois de conferir e reconferir toda bagagem, inclusive o "quiver" de duas pranchas –a velha 6.6 e a nova 7.2, feita especialmente para a viagem.
Meu pai saiu para trabalhar sem maiores considerações. Já minha mãe não parava de falar: "Cuidado com os dólares, com o passaporte, só beba água engarrafada, veja o que come, aonde dorme, cuidado com o mar, blá, blá, blá", enquanto eu engolia o café.
Finalmente às oito, o carro com meu amigo e seus pais –que nos dariam carona até Cumbica– chegou. A marginal do Tietê nunca me pareceu tão bonita. O pequeno engarrafamento na altura do acesso da via Dutra aumentou minha ansiedade. "E se não chegarmos duas horas antes do vôo?"
No aeroporto, após as despedidas, lá ia eu no vôo 628 com destino a Lima, no Peru. Tudo era novidade. Até a explicação das saídas de emergência e os salva-vidas do avião me chamavam a atenção. Depois de cinco horas de vôo, aterrissamos no aeroporto Jorge Chaves.
A primeira impressão no táxi a caminho da costa era de que, se não tivesse onda, teria caído na maior roubada. As bombas que explodiam até mesmo na Plaza San Martin –a praça da Sé de Lima– fazem, até hoje, parte da rotina da cidade. Apesar do habitual toque de recolher e dos óbvios inconvenientes, boa parte da população apóia as ações terroristas.
Já em Miraflores, no litoral, se percebe que nem só de ceviche –prato típico à base de peixe cru– se alimentam os peruanos. O mar, como de costume naquela altura do frio Oceano Pacífico, ajudou. Surfamos todos os dias, exceto quando resolvemos tirar uma de turistas e seguimos para Cuzco e Machu Pichu. Valeu a "trip".
Quando voltamos, o mar estava bem maior que qualquer outro dia que havíamos pegado. Senhoritas –nosso point habitual– quebrava monstro e fechando impraticável. Fomos para Punta Rocas, ao lado, que rolava clean, abrindo de 10 a 12 pés. Foi meu batismo em ondas realmente grandes.
A primeira viagem para o exterior a gente nunca esquece. Perto, barato, idioma acessível, ondas boas e constantes, o Peru –ultimamente dividindo com países da América Central– costuma ser a primeira opção de muitos surfistas.
E é para lá que uma renca de brasileiros se dirige esta semana. Pela primeira vez uma etapa do WQS será disputada em águas peruanas. De amanhã até domingo, paulistas, cariocas, paraibanos, catarinenses e o escambau terão a oportunidade de saltar na frente do ranking da segunda divisão mundial durante o Pepsi Pro Peru 94, evento de duas estrelas e US$ 20 mil de premiação.

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