São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994
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Szabó reflete sobre os rumos do cinema europeu

LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

István Szabó, um dos mais importantes cineastas da Hungria, esteve presente na 25.ª Semana do Cinema Húngaro em Budapeste. Em particular, foi privilegiar a première mundial de "Satantango" (O Tango de Satanás), filme de Bela Tarr, 39. São respeitáveis os cineastas que vão ao cinema para ver filmes dos outros. Eles são raros... Nesta entrevista exclusiva, feita antes do início da sessão, Szabó faz um balanço de sua carreira e avalia as condições do cinema europeu.
Folha - O seu cinema alcançou uma dimensão universal. Qual é melhor para o senhor hoje viver para fazer cinema? Budapeste, Berlim ou Los Angeles?
István Szabó - Budapeste, claro. Aqui continua a minha inspiração.
Folha - E o que mudou na Hungria com o fim do socialismo? Qual será o dilema dos seus personagens depois de "Queridas Amigas?"
Szabó - Não posso responder o que mudou. É uma questão política. Não é fácil aprender a viver na democracia. Ainda temos que abrir muitas portas. A tolerância é um longo processo de aprendizado. Talvez leve mais uns 30 anos. As primeiras portas que abrimos foi só para aprender que é muito complicado viver em democracia.
Folha - Com "Mephisto" aprendemos que um artista não se deve deixar seduzir pelos políticos de cada época. O que o seduz nos dias de hoje?
Szabó - Um artista tem que trabalhar como todo mundo. Este é outro dilema em "Mephisto". Continuo achando que um artista não deve fazer política. A sedução de um artista deve estar ligada a emoções pessoais, íntimas. Quem não as tiver não pode ser considerado um verdadeiro artista.
Folha - Que benefícios traz a unificação européia para as artes do próximo século?
Szabó - Por enquanto a unificação é apenas um nome, uma marca. Ninguém pode assegurar o real benefício de uma unificação como esta. Se estamos falando de um novo uniforme, de uma nova cor unificada, então eu estou fora. A Europa é feita por muitos campos que dão flores com cores muito diferentes, por caminhos diferentes. Isso não deve servir para confundir um artista.
Folha - E que benefícios lhe traz a unificação?
Szabó - Eu trabalho. Dirijo uma ópera, escrevo vários roteiros ao mesmo tempo. Continuo sonhando, enfrentando problemas financeiros e políticos. Um artista não deve antecipar-se ao seu tempo. Senão, em pouco tempo, não saberá mais o que fazer.
Folha - Existe futuro para o cinema fora da televisão?
Szabó - Sem um sistema organizado não pode haver futuro para o cinema. O cinema francês é um bom exemplo, fazendo mais de 100 filmes a cada ano. Os franceses tiram mais ou menos 10% das receitas de bilhteria e isto parece suficiente para alimentar a sua indústria de filmes. A televisão é um suporte secundário. Este é o melhor exemplo que conheço.
Folha - Qual foi a sua formação no cinema?
Szabó - No começo, De Sica, o neo-realismo italiano. Depois, Truffaut, a "nouvelle vague" francesa. E, depois, Bergman...
Folha - E qual será a formação da atual juventude?
Szabó - Talvez Jarmush, não estou certo... O cinema pode fazer qualquer um se sentir jovem. Se o filme é bom, posso sempre levá-lo para casa, nunca vou deixar faltar um espaço para as boas idéias. A virtude de uma boa mensagem é poder tirar dela o poder de viver e rejuvenescer. Quem me fez entender isso foi Bergman, Fellini, Kurosawa..

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