São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994 |
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Szabó reflete sobre os rumos do cinema europeu
LEON CAKOFF
Folha - O seu cinema alcançou uma dimensão universal. Qual é melhor para o senhor hoje viver para fazer cinema? Budapeste, Berlim ou Los Angeles? István Szabó - Budapeste, claro. Aqui continua a minha inspiração. Folha - E o que mudou na Hungria com o fim do socialismo? Qual será o dilema dos seus personagens depois de "Queridas Amigas?" Szabó - Não posso responder o que mudou. É uma questão política. Não é fácil aprender a viver na democracia. Ainda temos que abrir muitas portas. A tolerância é um longo processo de aprendizado. Talvez leve mais uns 30 anos. As primeiras portas que abrimos foi só para aprender que é muito complicado viver em democracia. Folha - Com "Mephisto" aprendemos que um artista não se deve deixar seduzir pelos políticos de cada época. O que o seduz nos dias de hoje? Szabó - Um artista tem que trabalhar como todo mundo. Este é outro dilema em "Mephisto". Continuo achando que um artista não deve fazer política. A sedução de um artista deve estar ligada a emoções pessoais, íntimas. Quem não as tiver não pode ser considerado um verdadeiro artista. Folha - Que benefícios traz a unificação européia para as artes do próximo século? Szabó - Por enquanto a unificação é apenas um nome, uma marca. Ninguém pode assegurar o real benefício de uma unificação como esta. Se estamos falando de um novo uniforme, de uma nova cor unificada, então eu estou fora. A Europa é feita por muitos campos que dão flores com cores muito diferentes, por caminhos diferentes. Isso não deve servir para confundir um artista. Folha - E que benefícios lhe traz a unificação? Szabó - Eu trabalho. Dirijo uma ópera, escrevo vários roteiros ao mesmo tempo. Continuo sonhando, enfrentando problemas financeiros e políticos. Um artista não deve antecipar-se ao seu tempo. Senão, em pouco tempo, não saberá mais o que fazer. Folha - Existe futuro para o cinema fora da televisão? Szabó - Sem um sistema organizado não pode haver futuro para o cinema. O cinema francês é um bom exemplo, fazendo mais de 100 filmes a cada ano. Os franceses tiram mais ou menos 10% das receitas de bilhteria e isto parece suficiente para alimentar a sua indústria de filmes. A televisão é um suporte secundário. Este é o melhor exemplo que conheço. Folha - Qual foi a sua formação no cinema? Szabó - No começo, De Sica, o neo-realismo italiano. Depois, Truffaut, a "nouvelle vague" francesa. E, depois, Bergman... Folha - E qual será a formação da atual juventude? Szabó - Talvez Jarmush, não estou certo... O cinema pode fazer qualquer um se sentir jovem. Se o filme é bom, posso sempre levá-lo para casa, nunca vou deixar faltar um espaço para as boas idéias. A virtude de uma boa mensagem é poder tirar dela o poder de viver e rejuvenescer. Quem me fez entender isso foi Bergman, Fellini, Kurosawa.. Texto Anterior: A palavra amor aplaca toda ira Próximo Texto: BBC lança canal de notícias nos EUA até 95 Índice |
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