São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994
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A magia é mais perfeita longe do asfalto

HÉLIA ARAÚJO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quando Ernest Hemingway escreveu que "Paris é uma festa", não devia conhecer Veneza. Ninguém está querendo desmerecer a "cidade-luz", mas Veneza tem uma magia única, produzida pelos reflexos da água, pela desorientação em que lança o turista acostumado somente a ruas de asfalto.
Construída sobre 118 ilhotas, que separam 177 canais ligados por cerca de 400 pontes, essa cidade italiana, de Tintoreto e Ticiano, convida o turista a se perder por labirintos de séculos de história e arte. E a proposta é se emocionar.
Quem torce o nariz para o inverno veneziano pode esquecer o preconceito. Pense nas vantagens: há gôndolas para todos, a Piazza de São Marco não fica entupida de gente, os hotéis estão mais vazios e para se visitar os museus não é preciso enfrentar grandes filas.
Passear pelas ruas é uma experiência incansável. As lojas oferecem tudo. Desde miniaturas em vidro e produtos de renda (duas das principais indústrias venezianas), passando por artigos de couro superelegantes a preços bem razoáveis se comparados com os preços europeus, até roupas elegantíssimas da alta costura italiana.
Durante o ano inteiro, a vida cultural de Veneza é mais uma de suas delícias (veja quadro ao lado). Concertos e exposições preenchem os museus e galerias de arte que são, em sua maioria, restaurações de antigas igrejas e palácios. A programação pode ser adquirida no centro de turismo.
Não se conhece Veneza sem visitar a "piazza" San Marco, segundo Napoleão, "o mais belo salão da Europa". É para lá que turistas e venezianos se dirigem para sentar nas calçadas e admirar os monumentos que a cercam: a Basílica de San Marco, uma mistura de vários estilos arquitetônicos –bizantino, romano, gótico e renascentista; o famoso Palácio Ducal, antiga residência dos "doges", antigos governadores de Veneza e um dos orgulhos da cidade, onde se encontram vários murais de Tintoreto; a imponente Biblioteca de San Marco, cuja fachada se baseou no muro externo de um teatro romano; o Campanário de São Marco, o ponto mais alto de Veneza, de onde se vê toda a cidade.
Antes de sair da praça vale a pena passar no célebre "Café Quadri" e tomar um "capuccino" com deliciosas tortas. Os preços são acessíveis, encarecendo muito para refeições completas (cerca de US$ 40/CR$ 22,6 mil).
Os menus turísticos nas tratorias e restaurantes populares variam entre US$ 15 a US$ 20 (CR$ 8.400,00 a CR$ 11,3 mil). Um prato típido local é a lula à veneziana, cozida na própria tinta; as pizzas e as massas também são muito populares, variando entre US$ 10 e US$ 20 (CR$ 5.650,00 a CR$ 11,3 mil). Mas não se esqueça da hora, pois a maioria dos restaurantes fecha entre 15h e 18h.
Vários são os acessos à cidade. Por trem, por avião –desembarcando no Aeroporto Internacional Marco Polo, onde existe um serviço de ônibus regular que em 30 minutos deixa o passageiro na Piazzale Roma, ou de carro alugado (neste caso a melhor opção é deixá-lo no estacionamento da ilha de Troncheto –é maior, mais barato e mais rápido para entrar e sair do que o Piazzale Roma).
Em Tronchetto, há um único problema: o grande número de falsos guias turísticos, falando (mal) diversas línguas, oferecendo passeios aos turistas desavisados. Fingir que não entende nada é a melhor opção. Lá mesmo, antes de pegar o "vaporeto" (transporte público pelos canais de Veneza) ou o "motoscafo" (mais rápido), há uma agência de viagens onde se pode reservar o tipo de passeio turístico que mais lhe agradar.
A noite cai em Veneza e tudo muda. A falta de ruído dos carros, ônibus e motos contribui para essa atmosfera mágica. Vez ou outra passa um barco, uma gôndola, um cantor de bela voz. As pessoas param e aplaudem. O romance está sempre presente. Veneza está à espera de quem gosta de emoções.

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