São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Entidades recolhem sobras de comida nos EUA

FERNANDA GODOY
DE NOVA YORK

Todas as manhãs, quando entra no caminhão branco com a inscrição, em letras verdes, "City Harvest" ("Colheita da Cidade"), o motorista Kevin Brown sabe que seu dia de trabalho vai ajudar a diminuir a fome na cidade de Nova York. Kevin faz parte de um esquadrão que recolhe por ano cerca de 3.000 toneladas de alimentos, distribuídos diariamente para mais de 30 mil pessoas necessitadas.
"Eu ganhava mais dirigindo um caminhão de entrega de bebidas alcoólicas. Mas era triste ver gente fazendo fila na porta das lojas às 9h da manhã para comprar álcool", diz Kevin, que está no City Harvest há três anos.
O programa foi estabelecido em 1982 para juntar duas extremidades de uma cadeia: os que têm sobras de comida em uma ponta e os carentes que não têm como se manter na outra.
Atualmente, cerca de 400 restaurantes, padarias e supermercados de Nova York contribuem regularmente. Muitos deles contribuem diariamente com o programa e acabam determinando os itinerários de dez caminhões. Motoristas como Kevin percorrem diariamente todos os bairros de Nova York recolhendo sobras dos mais variados tipos de alimentos.
Há, também, milhares de outros estabelecimentos que fazem doações ocasionais. Nesse caso, basta o doador ligar para uma central telefônica informando sobre a disponibilidade de qualquer tipo de alimento. A central, então, contata o motorista mais próximo do doador por rádio e ele faz a coleta.
A reportagem da Folha em Nova York acompanhou um dia de coleta e distribuição –praticamente simultânea, já que muitos dos alimentos são perecíveis– em Manhattan.
Em três horas de percurso percorremos mais de 15 pontos de coleta. "Vamos começar a entregar já, porque as pessoas estão esperando", disse Kevin, ziguezagueando pelo sul da ilha.
Estão credenciadas para receber essa comida 134 instituições e abrigos para "homeless" (há cerca de 70 mil pessoas morando nas ruas de Nova York), idosos, doentes mentais e outras pessoas incapazes de prover sua própria alimentação. Para serem aceitas, as instituições precisam preencher alguns requisitos básicos, como manter a higiene da cozinha e, naturalmente, servir a comida de graça.
Iniciativas como o City Harvest já estão consolidadas também em outras grandes cidades norte-americanas, como Philadelphia, Washington e Atlanta. Os custos de operação do City Harvest, que é uma entidade sem fins lucrativos, são de aproximadamente US$ 2 milhões por ano.
Para obter o dinheiro, a entidade conta com contribuições individuais, de empresas e de fundações.

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