São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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Equipe tem cartilha com erros do Cruzado

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O Plano Cruzado, de 1986, começou a ser articulado de modo muito semelhante ao Plano do inistro Fernando Henrique Cardoso, inclusive com os mesmos principais formuladores: Pérsio Arida, André Lara Resende, Edmar Bacha.
Partia da idéia de que a inflação brasileira era essencialmente crônica e inercial, conceito então novo que pode ser resumido assim: quando não há mais nenhuma causa estrutural de inflação -desequilíbrio das contas públicas ou excesso de demanda, por exemplo- os preços continuam subindo para repor a inflação passada. Esta se perpetua.
Para romper essa inércia, é preciso atrelar a economia a uma moeda ou uma medida de valor constante, na época a ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional), hoje a URV. Mas a coisa só funciona se a inflação for estritamente inercial, reprodução do passado.
EquilíbrioPortanto, na época do Cruzado, como agora, o setor público precisava estar equilibrado e a economia não poderia estar aquecida por demanda excessiva.
Mas aconteceu que o setor público, longe do equilíbrio, estava em deficit e, o que foi pior, com variadas fontes de vazamento. As contas nunca fechavam.
E, após o Cruzado, a economia ficou superaquecida, devido à combinação de inflação zero e salários constantes, que haviam tido ganho real na conversão de cruzeiros para cruzados.
A fórmula para os salários foi converter pela média dos últimos 12 meses, acrescentando-se mais 8% para todos e 16% para o mínimo. Esse ganho real não estava previsto pela equipe econômica e foi introduzido à última hora por razões políticas.
CongelamentoO congelamento também não estava previsto. A idéia, como hoje, era deixar que o mercado regulasse preços, em ambiente de austeridade monetária (juros altos) e fiscal (gastos do governo controlados).
Deu tudo errado: o governo passou a gastar mais, os juros não subiram, o congelamento logo fez água. Assim, acabou a inflação em cruzeiros, mas se iniciou uma nova em cruzados.
Os membros da atual equipe econômica dizem que, para o Plano FHC, trabalham com um manual especial, o "inventário dos erros do Cruzado". A verificar se conseguem evitar os erros antigos e não criar erros novos. (Carlos Alberto Sardemberg)

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