São Paulo, sábado, 5 de março de 1994
Próximo Texto | Índice

Produtor inglês quer filmar inédito de Glauber

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Produtor inglês quer filmar inédito de Glauber
Um roteiro inédito de Glauber Rocha, "O Testamento da Rainha Louca", pode chegar às telas pelas mãos do inglês Donald Ranvaud. O produtor-associado de "Adeus Minha Concubina", que disputa o Oscar de melhor filme estrangeiro, está procurando patrocínio na Europa e EUA para realizar o longametragem do diretor baiano.
Principal representante do Cinema Novo, Glauber Rocha iniciou o roteiro em 1975. Escreveu à máquina 77 sequências. Entre a primeira e a última palavra, consumiu meia década. Morreu em agosto de 1981, aos 42 anos, exatos 12 meses depois de encerrar "OTestamento da Rainha Louca". A Folha publica com exclusividade trechos do roteiro.
Mal terminou o trabalho, Glauber o levou para Neville d'Almeida ("A Dama da Lotação", "Os Sete Gatinhos"). Com o roteiro, entregou também uma carta, sugerindo que o cineasta mineiro dirigisse o longa (leia texto abaixo).
Glauber morreu antes que o amigo pudesse começar as filmagens. "Guardo o roteiro há 14 anos porque nunca tive dinheiro para rodá-lo", diz Neville. Dinheiro, no caso, significa US$ 1,2 milhão. O cineasta afirma que, primeiro, tentou financiamento junto à Embrafilme, Depois, procurou o Pólo de Cinema e Vídeo do Distrito Federal. Não conseguiu nada.
Por volta de 1987, o diretor conheceu Ranvaud. O inglês ainda não produzia filmes. Era jornalista e visitava o Rio. "Ficamos amigos e acabei lhe mostrando o roteiro. Ele gostou, mas nunca imaginei que um dia se interessaria em realizá-lo", conta Neville.
Donald Ranvaud deixou o jornalismo no início dos anos 90 e fundou a Serene Productions, que hoje tem escritórios em Los Angeles, Roma e Londres. O ex-repórter revelou-se um produtor hábil, assinando longas-metragens na França, Canadá, Chipre, Mali, Alemanha, Itália e China. Foi a China, aliás, que lhe deu projeção internacional. "Adeus Minha Concubina", do diretor Chen Kaige, dividiu a Palma de Ouro com "O Piano" no último Festival de Cannes. Agora, disputa não só o Oscar de filme estrangeiro, como o de fotografia.
Entre um longa na Ásia e outro na África, Ranvaud sempre encontrou tempo para se corresponder com cineastas brasileiros (incluindo Neville). Acabou por co-produzir "Alma Corsária", do gaúcho Carlos Reichenbach. O filme levou os principais prêmios do 26º Festival de Brasília, em novembro do ano passado. O êxito animou o inglês, que resolveu tocar mais projetos no país. Por exemplo: "O Testamento da Rainha Louca". A Serene Productions pretende captar US$ 600 mil para o longa. Os US$ 600 mil restantes terão que partir de outras fontes.
Neville deverá dirigir o filme. A atriz mexicana Claudette Maillé ("Como Água para Chocolate") já manifestou interesse em interpretar a protagonista Isabel Tereza.
Em 1993, durante quatro dias, Neville e Ranvaud percorreram Minas Gerais à procura de locações. Visitaram as cidades de Nova Lima, Lagoa Santa, Conceição do Mato Dentro, Serro e Diamantina. "Donald retornou feliz da viagem. Ele sempre admirou o Cinema Novo. Agrada-lhe muito a idéia de realizar um filme de Glauber", diz o irmão do produtor, Ronald Ranvaud, que mora em São Paulo desde 1978. A Folha tentou localizar Donald nos EUA, mas recebeu a informação de que ele está viajando.

Próximo Texto: Roteiro mistura mito e história
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.