São Paulo, sábado, 5 de março de 1994
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Novidades da Petrobrás

A Petrobrás acaba de anunciar ao país, com certo estardalhaço, a descoberta de nada menos do que quatro novos campos de petróleo na Bacia de Campos (RJ). Segundo a estatal, essa descoberta teria elevado suas reservas totais para 10 bilhões de barris, 1 bilhão mais do que o supostamente existente. É uma notícia que causa estranheza.
Sem dúvida chama a atenção, em primeiro lugar, o "timing" da divulgação dessas descobertas. Ela se seguiu ao batizado (também divulgado com alarido) de uma nova e gigantesca plataforma de exploração submarina. Ambos os eventos tiveram farta publicidade exatamente quando começa a crescer o debate sobre a manutenção do monopólio estatal do petróleo. Como que para não haver dúvidas de que se inserem na campanha da Petrobrás em prol da preservação desse privilégio, o então ministro das Minas e Energia, José Israel Vargas, chegou a afirmar que as descobertas fortaleciam a defesa do monopólio.
Os próprios números fornecidos pela Petrobrás acerca da descoberta suscitam diversas dúvidas. Um relatório da empresa divulgado em agosto passado informava que as reservas totais do país somavam 10 bilhões de barris em 31 de dezembro de 1992. Depoimento feito em maio do ano passado pelo supervisor do serviço de planejamento da estatal –e publicado pela Fiesp– ratificava esse mesmo volume para as reservas brasileiras de petróleo.
Diante desses dados, é difícil entender como a Petrobrás vem anunciar ao país que só agora, com mais 1 milhão de barris novos dos campos recém-descobertos, as reservas nacionais teriam aumentado para 10 bilhões de barris. É uma contradição que só contribui para levantar indagações acerca da finalidade propagandística dos anúncios feitos. O impacto desses anúncios fica evidente com o efeito que a notícia gerou na Bolsa. No dia da divulgação, as ações da Petrobrás se valorizaram 7,1%, contra um aumento de apenas 2,3% do índice Bovespa.
Cabe ressaltar, por fim, que os esforços da Petrobrás em proclamar-se eficiente só fazem justificam a tese de que o monopólio é dispensável. Só a livre concorrência oferecerá à Petrobrás a chance de provar se a competitividade que afirma ter é mesmo verdadeira –e se for, ela nada tem a temer. Já a sociedade, que é quem realmente interessa, só tem a ganhar.

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