São Paulo, segunda-feira, 7 de março de 1994
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Bancos querem antecipar uso da URV

DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos querem antecipar a introdução gradual da URV (Unidade Real de Valor) em operações do mercado financeiro já para esta semana. Solicitaram ao Banco Central autorização para lançar CDBs atrelados ao indexador para poderem começar a realizar operações de desconto de duplicatas das empresas também em URV. Pediram, ainda, que o BC inicie a venda de papéis federais que acompanhe essa unidade de conta.
O diretor de Política Monetária do BC, Alkimar Moura, reuniu-se com vários grupos do mercado financeiro, sexta-feira passada, e ouviu a todos com atenção. Falou pouco, como é de seu feitio, mas avisou que está consciente dos problemas de descasamento de indexadores que estão acontecendo na fase de transição para a criação do novo padrão monetário do país e anotou todos os pedidos. Adiantou aos interlocutores que o BC já estuda as regulamentações.
A Andima (Associação Nacional das Instituições de Mercado Aberto) aguarda a publicação de uma série de resoluções até quarta-feira. Por causa desse descasamento, os bancos estão reduzindo o volume de operações e praticando juros desestimulantes ao investidor que quiser renovar seu CDB e contrair linhas de crédito. "Existe da parte do BC o mesmo entendimento de que é necessário prover o mercado de regras de atuação em URV", afirma Antônio Hermann Dias Menezes, presidente da ABBC (Associação Brasileira de Bancos Comerciais). "Estão tão preocupados como nós."
A pressa dos bancos também se deve à regra de que todos os contratos a partir do próximo dia 15 deverão ser expressos em URV. "Como é que eu vou descontar duplicatas em URV se eu não posso captar em URV?", questiona Maurício Schulman, presidente do Conselho de Administração do Bamerindus.
Enquanto espera pelas regulamentações, o mercado encurta os prazos. Hoje, um desconto de duplicata tem prazo médio de 15 dias. Segundo Walter Kuroda, diretor do Banco Nacional, é melhor travar as operações do que provocar ou tomar prejuízos por conta de apostas em torno da data da mudança do padrão monetário. "Não temos certeza se haverá tablita e como ela vai incidir", diz.
Dias Menezes diz que se houver a transição para URV já, não haverá necessidade de tablitas sobre os contratos em curso. Os grandes aplicadores de recursos, por sua vez, estão fugindo dos CDBs. "Está todo mundo sentado no curto prazo", afirma Alberto Tammer Filho, diretor financeiro da Staroup. "Ninguém vai querer comprar um CDB nesse momento ou tomar capital de giro."
O pano de fundo dessa insegurança é o exercício de adivinhar quando será feita a troca de moeda. Alkimar Moura avisou aos interlocutores do mercado financeiro, na reunião de sexta-feira passada, na sede paulista do BC, que não há necessidade de um momento mágico para se fazer isso, no caso quando o dólar comercial estiver valendo CR$ 1.000,00.
"A mudança pode ser feita em alguns dias e a partir de qualquer dia", afirmou Moura. As apostas do mercado financeiro jogam as fichas em várias datas. O feriado de 1º de abril seria ideal por esticar o final de semana e dar tempo para a troca de numerário. Outros preferem jogar com o período entre 8 e 10 de abril, quando o valor do dólar vai chegar aos CR$ 1.000,00. Os mais criativos falam em 23 de abril, dia de São Jorge, o santo guerreiro que matou o dragão.

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