São Paulo, quarta-feira, 9 de março de 1994 |
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Artista ficou dividido durante Guerra Fria
HUMBERTO SACCOMANDI
O FBI considerava Picasso um agente do comunismo, segundo documentos que a Tate Gallery trouxe de arquivos nos EUA. "A assim chamada arte moderna contém todos os 'ismos' da depravação, decadência e destruição", disse o senador republicano George Dondero nos anos 40. Segundo o FBI, ele citava Picasso. Para a URSS, Picasso tinha boas intenções, mas era antes de mais nada um burguês, segundo informações colhidas nos arquivos soviéticos. O artista foi várias vezes criticado por não abraçar o realismo socialista, a doutrina artística oficial de Moscou. Picasso entrou para o PC francês em outubro de 1944, à véspera de sua exposição retrospectiva no salão Libération em Paris. A capital francesa havia sido liberada em agosto, e os comunistas, protagonistas da resistência à ocupação nazista, gozavam de grande popularidade. A adesão de Picasso foi uma vitória do movimento comunista, pois dava respeitabilidade cultural e intelectual ao partido. Quase simultaneamente o FBI abria uma pasta para Picasso, sob o número 100-337396. O documento elencava as organizações das quais o artista fazia parte. Picasso teve visto de entrada para os EUA recusado várias vezes. O FBI o manteve sob vigilância até pouco antes de sua morte. Para Moscou, Picasso era um importante meio de propaganda e suas "excentricidades burguesas" eram toleradas. O artista foi muito criticado por obras consideradas derrotistas ou que não contribuíam para glorificar o comunismo. A relação melhorou ligeiramente com a ascensão de Nikita Khruschov, que denunciou o culto à personalidade de Stálin. Picasso comemorou seus 70 anos em Moscou, em 1956. Pouco depois, porém, a URSS invade a Hungria. Picasso assinou então, junto com outros nove intelectuais, um protesto junto ao PC francês. Texto Anterior: Mostra indica tendência do turismo artístico Próximo Texto: Ira via amor com inteligência e humor Índice |
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